Inquérito aos incidentes no Chiado concluído só após férias da Páscoa

Foto
PCP e BE pediram audição urgente do ministro Miguel Macedo. Hugo Torres / Reuters

Parlamento decide esta quarta-feira audições a Miguel Macedo, à responsável da Inspecção- Geral da Administração Interna e ao chefe do SIS.

O inquérito dirigido pela Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI) aos incidentes no Chiado da passada quinta-feira, 22 de Março, a jornada de greve geral, só deverá estar concluído depois das férias da Páscoa, ou seja, em meados do próximo mês de Abril.

Será com base nas conclusões do trabalho da IGAI, serviço dirigido pela inspectora-chefe Margarida Blasco, antiga directora do Sistema de Informação e Segurança (SIS), que o MAI, Ministério da Administração Interna, decidirá a posição a adoptar. Em causa estará a eventual responsabilização da ordem para a carga policial na rua Garrett, em Lisboa, que provocou ferimentos em dois fotojornalistas, José Sena Goulão, da Lusa, e Patrícia de Melo Pereira, da agência AFP.

Hoje, na Comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais são votadas duas iniciativas, do BE e do PCP, solicitando, respectivamente, a audição urgente do ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, e de Margarida Blasco. Os comunistas decidiram ainda agendar um novo pedido de audição, o do director do SIS, Horácio Pinto, pelo teor de um relatório daqueles serviços de informação, cujos excertos foram publicados na edição de ontem do Diário de Notícias. O grupo parlamentar do PCP requereu também o envio daquele relatório à Assembleia da República.

O trabalho do SIS, remetido dois dias antes da greve geral às diversas polícias e ao Ministério da Administração Interna, alertava para acções de rua que poderiam ser protagonizadas por grupos minoritários e desenhava cenários catastrofistas: Do bloqueamento das ruas de Lisboa a ataques com coktails molotov a edifícios governamentais ou entidades financeiras. No entanto, estas previsões não estariam sustentadas em dados concretos.

Peritos em segurança ontem contactados pelo PÚBLICO, e que solicitaram o anonimato, consideraram o cenário apocalíptico previsto pelo SIS como um exagero sem fundamento. Pelo que duvidam da credibilidade daqueles alertas. Aliás, as mesmas fontes recordaram que em Outubro do ano passado, ou seja, antecedendo a greve geral de 24 de Novembro, o SIS já tinha elaborado um relatório sombrio relativo à conflitualidade social em Portugal para 2012. Uma antevisão que, afinal, acabou por contrastar significativamente com a realidade, ou seja, com o número de ocorrências comunicadas pelas forças de segurança em 22 de Março durante a greve geral ao ministério de Miguel Macedo. Como o próprio ministro revelou no passado sábado, os incidentes não chegaram às quatro dezenas em todo o país. A excepção à insignificância das ocorrências foram os incidentes do Chiado.

Por isso, as imagens da carga policial levaram o Presidente da República a defender, na segunda-feira, a necessidade de clarificar o ocorrido na Rua Garrett. "Penso que é importante que todos saibamos, que o povo português saiba bem, tudo aquilo que aconteceu nos distúrbios que ocorreram no Chiado", referiu Cavaco Silva. O Presidente lamentou "profundamente que dois fotojornalistas tenham sido atingidos".

Sugerir correcção
Comentar