Independência ou acesso: O que conta mais para uma biografia?

Editores preferem biografia não autorizada, por "uma questão de liberdade".

Margaret Thatcher encontrou uma forma de contornar o dilema. O seu biógrafo, Charles Moore, estava "autorizado" a consultar toda a sua documentação pessoal e oficial. Teve acesso a familiares, amigos e correligionários. Porém, o resultado final só poderia ser publicado após a morte da ex-primeira-ministra do Reino Unido - o que aconteceu em Abril de 2013. Ou seja, ela já não poderia refutar a obra, nem sofrer as consequências das suas revelações.

O normal é que as biografias sejam autorizadas, ou então feitas à revelia do biografado. A não-autorização coloca sérios problemas aos biógrafos. "Como é que podemos ter acesso a um arquivo que não existe em mais lado nenhum?", exemplifica João Pedro George.  Muitas vezes, mesmo nos casos em que o biografado já morreu, é necessário chegar a "uma espécie de contrato" com a família. Mas estes condicionalismos "podem anular uma biografia". Seja porque não há acesso a informação relevante, seja porque as condições impostas para aceder a esse acervo impedem que o resultado seja equilibrado. Sobretudo quando o protagonista é, ou foi, um político que dividiu as opiniões da sociedade. 

A editora Liliana Valpaços defende que "por uma questão de liberdade é sempre melhor que uma biografia seja não-autorizada".  Mas há sempre um reverso: uma biografia feita contra a vontade do biografado (ou da família deste) pode ser apresentada como "propaganda hostil".  Precisamente na mesma medida em que uma biografia autorizada pode ser remetida para o canto das "hagiografias". 

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