Imagem de “estabilidade”, “segurança” e “experiência” garantiu eleição a Costa

Para os profissionais de comunicação Paixão Martins e Pedro Bidarra, as garantias que a experiência executiva do actual autarca são a mais-valia que ditou a sua eleição.

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Enric Vives-Rubio

A vitória de António Costa sobre António José Seguro foi uma vitória política em que o presidente da Câmara de Lisboa conseguiu conquistar a confiança de militantes e simpatizantes do PS. Mas essa vitória foi determinada por factores que pouco têm a ver com o seu discurso político puro e duro.

Ela surge motivada por critérios múltiplos que levaram a que a relação entre as pessoas e Costa se estabelecesse. Esses critérios são a imagem de “estabilidade”, de “segurança” e de “experiência” que Costa transmite às pessoas, consideram Luís Paixão Martins e Pedro Bidarra, especialistas em comunicação ouvidos pelo PÚBLICO.

Luís Paixão Martins, presidente da LPM Comunicação, começa por observar que António Costa “é muito pragmático”, ou seja, “faz uma grande economia” da sua performance política, “faz a avaliação do que precisa para ganhar”, afirma. E vaticina: “E vai continuar assim.”

Paixão Martins considera que, “no futebol, António Costa seria considerado um falso lento”. Isto porque “joga a política com parcimónia de recursos, fica sempre aquém daquilo que lhe é exigido por jornalistas e comentadores, tem uma produtividade baixa”. Porém, Paixão Martins sustenta que, “sempre que a situação o exige, sai a fintar e a atirar à baliza adversária”. Foi isso que entende que aconteceu frente a Seguro, “como no passado recente com Fernando Seara”, que em ambos os casos “eram adversários de partidas que tinham vencedor antecipado”.

Este especialista em comunicação que dirigiu já várias campanhas eleitorais considera que há dois cenários para a performance política futura de Costa face ao seu novo adversário, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.

O cenário que Paixão Martins julga ser “mais evidente seria ir a jogo de forma a potenciar a cabazada que deu a Seguro e a ‘tecnofragilidade’ actual de Passos”. Esta atitude permitir-lhe ia “duas vantagens óbvias: não correria o risco de desgaste de ser líder da oposição, uma das actividades mais detestadas pelos portugueses”, assim como não daria “as oportunidades de ataque dos seus opositores a um presidente de câmara percebido como em dedicação parcial”.

Contudo, Paixão Martins pensa que, se Costa “continuar a seguir as marcas das suas pegadas políticas”, o que irá acontecer é que “vai esperar a meio-campo pela definição das regras do jogo”. E ironiza: “Deve dar-lhe gozo ver os seus adversários – e os mensageiros dos seus adversários – reclamar para que ele tenha outra atitude em campo.”

Estabelecendo ainda a correlação comparativa com Passos ou Seguro, “Paixão Martins afirma que “sobressai a diferença de capital político” de Costa. Lembrando que “há quem diga que os três são filhos da mesma mãe ‘jotinha’ e que têm percursos partidários idênticos, embora em ‘famílias’ diferentes”, Paixão Martins sublinha que “isso não é verdade”.

E defende que “Costa tem uma bagagem política muito superior que lhe advém das próprias origens familiares”, de ter estado no centro da "corte de Lisboa" e de ter "uma militância menos relacionada com o aparelho e a organização e mais com as elites e os protagonistas do seu partido”.

Por isso, observa que Costa “é um candidato a primeiro-ministro que funciona bem, apesar de ter tudo para funcionar mal”. E define as características à partida antipolíticas de Costa que acabam, afinal, por reverter a seu favor: “Não é um dos nossos, não arregaça as mangas, nem corre de manhã à beira-rio. É pesado, pacholas e intelectual.” Paixão Martins prevê: “Vencerá as legislativas se os portugueses que decidem votarem na protecção e na garantia, depois de um ciclo político de insegurança e instabilidade.”
 
“Pessoas estão fartas”
O psicólogo e consultor de comunicação Pedro Bidarra faz uma análise semelhante da performance política de António Costa e da relação que estabelece com o eleitorado, embora chegue às suas conclusões olhando “não tanto para o que tem António Costa, mas para as motivações dos cidadãos”.

Pedro Bidarra considera que “não há grande segredo”, ou seja, viveu-se “todo um período de três anos que tem actores claros: Passos Coelho e Seguro”. Ora, “as pessoas estão fartas destas receitas e destes protagonistas”. Por isso, conclui que “não foi só Seguro que teve maus resultados”, até porque “o BE também tem uma situação de desgaste e teve maus resultados”.

Este especialista em comunicação sublinha, por outro lado, que “António Costa é o que tem mais qualidade”. E Pedro Bidarra afirma mesmo que surge aos eleitores como “óbvio que António Costa, além da personalidade e do carisma, tem uma solidez grande de percurso e de currículo”.

E explica: “As pessoas percebem que o primeiro-ministro foi feito na função e não tinha experiência anterior de governo, só tinha vida na JSD – assim como Seguro. E António Costa mostra que tem currículo. É um político de Estado, foi ministro mais de uma vez, é presidente da câmara. Em Lisboa foi reeleito com mais votos. Lisboa está melhor. Há elementos racionais para escolha.”

Bidarra conclui mesmo que “os cidadãos não são parvos e não fazem escolhas com o coração, fazem-nas com a razão”. Assim, “as pessoas reconhecem-se em quem dá segurança” e “Costa dá a segurança de não ter nascido ontem, tem experiência”.

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