Henrique Neto

Costa podia talvez mostrar alguma curiosidade pelos motivos que levaram um homem de 78 anos, modesto e com uma excepcional carreira na indústria, a sair da sombra.

Henrique Neto, um velho socialista, achou de repente que o país precisava das suas luzes e resolveu apresentar a sua candidatura a Presidente da República.

Está no seu direito, mas foi logo zelosamente insultado pelas luminárias do PS. Ao admirável José Lello, lembra Beppe Grillo. Para Augusto Santos Silva, com a sua elegância habitual, não passa de um bobo. E António Costa declarou à pressa que o episódio lhe era “indiferente”: Henrique Neto, para efeitos práticos, não existia. No que não deixa, em certa medida, de ter razão. Sem dinheiro, sem apoio no partido, sem uma organização própria, sem um nome nacional, Neto com certeza que não irá longe. Costa podia talvez mostrar alguma curiosidade pelos motivos que levaram um homem de 78 anos, modesto e com uma excepcional carreira na indústria, a sair da sombra. Infelizmente, Costa não se interessa por essas bagatelas.

Só que, posto de parte cavalheiramente este fantasma da Marinha Grande, ficam algumas perguntas, que merecem resposta. Será, por exemplo, que, a benefício de uma amnésia incurável e total, Costa já esqueceu o que foram os bons tempos de António Guterres: a indecisão diária, a desordem no Governo, a ausência de autoridade, o populismo intermitente de um primeiro-ministro católico? A sério que gostava de ver esse melancólico espectáculo repetido em Belém? Ou prefere Vitorino, o advogado de negócios, que nunca abriu a boca sobre o estado, o destino e o caminho de Portugal? Ou a invenção de Soares, que dá pelo nome de António Nóvoa, e que não se recomenda por mais do que uma oratória com um século de atraso e uma vacuidade absoluta? Esses não são bobos, nem Grillos, nem indiferentes?

A direita não comentou a candidatura de Henrique Neto. Por motivos tácticos mais do que óbvios, mas também porque evidentemente não se sente segura. Durão Barroso, eleito pelos portugueses para primeiro-ministro, arranjou na “Europa” um emprego melhor. Marcelo Rebelo de Sousa é um comentador (exclusivamente preocupado com a “apresentação” das políticas) a quem, ao fim de 30 anos de televisão, não se conhece uma convicção, um princípio, um objectivo. Rui Rio, fora a importância que ele a si mesmo se atribui, é uma personagem secundária do Porto. E Santana Lopes continua heroicamente Santana Lopes. No meio disto, desta pobreza e desta inconsciência, porque não a extravagância de Henrique Neto?

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