Fundação Francisco Manuel dos Santos “à procura da liberdade” em Outubro

Terceiro encontro Presente no Futuro, a 3 e 4 de Outubro, será dedicado à liberdade e às suas variadas formas de expressão na sociedade.

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Nuno Garoupa, presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, considera que as comemorações dos 40 anos do 25 de Abril mostraram alguma "nostalgia". Nuno Ferreira Santos

A liberdade, em todas as suas acepções, assim como a sua concretização ou não no Portugal de hoje e no de amanhã, será o tema do terceiro encontro anual do ciclo Presente no Futuro, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que se realiza a 3 e 4 de Outubro, em Lisboa.

A intenção dos organizadores é "levantar questões, provocar ideias, despertar diálogos, partilhar saberes e criar conhecimento" sobre o que é actualmente “ser livre e ter opinião” em Portugal. As conferências, debates e simples conversas que vão decorrer no Centro Cultural de Belém sob o lema “À Procura da Liberdade” apoiam-se em três pilares: a ideia e o conceito de liberdade, a situação da liberdade em Portugal e uma reflexão sobre o futuro da liberdade.

O tema da liberdade está pensado desde há três anos, quando a fundação lançou os encontros – o primeiro sobre demografia, o outro sobre a Europa -, mas Nuno Garoupa, actual presidente da instituição, admite que ele é mais é mais “premente” que nunca. “Os três anos de intervenção da troika e as alterações económicas e sociais que sofremos vieram mostrar que este é um problema muito mais concreto neste momento. Porque a nossa noção e ideia de liberdade alterou-se”, afirmou o responsável ao PÚBLICO.

“Este ano, com as comemorações do 25 de Abril, notou-se uma certa nostalgia de que tivemos um período de grandes liberdades e que estas se encontram muito condicionadas neste momento.” Por isso, há que debater se estamos “num momento de liberdades condicionadas ou num momento de transição para um novo paradigma de liberdades” – ainda que não haja certezas de que também aqui se chegue a uma resposta exacta.

Mas isso não preocupa os organizadores. Jaime Gama, o comissário científico do evento, realça que a intenção “não é fazer uma prédica ou um manifesto de recomendações” e diz-se mais interessado em ouvir os vários pensadores da liberdade que marcarão presença, em “desconjunturalizar” os eventuais problemas de liberdade e deixar que o público – que se espera jovem – possa tirar as suas conclusões. Por isso, quando questionado se Portugal é hoje um país de e em liberdade, o socialista responde que isso é o que cada participante irá, no final, aferir por si.

E porque a liberdade se expressa de muitas formas - tantas que nem sempre as pessoas se apercebem que é de liberdade que se trata quando se fala de arte, cultura, ciência, educação, democracia, religião, migração, direitos humanos ou tecnologia – o conselho científico dos encontros está a preparar um conjunto de informação estatística em rankings internacionais, compilando dados sobre Portugal em muitas destas áreas. A intenção é perceber como se interrelacionam estes índices e o seu reflexo prático nos níveis de liberdade vividos no país.

Ontem os organizadores olharam para os níveis da satisfação dos portugueses com a democracia, que tem diminuído desde 2009, de acordo com dados do Portal de Opinião Pública. Numa escala de 1 a 4, essa satisfação baixou de 2,4 (2009) para 1,8 (2013). E apenas 9% dos portugueses dizem confiar nos partidos. Uma realidade que não é exclusiva de Portugal, mas antes normal nos países do Sul da Europa, realçou a politóloga Marina Costa Lobo, do conselho científico. Uma insatisfação crescente que afasta os cidadãos da vida pública e política, como se tem provado pelo aumento sucessivo das taxas de abstenção nas eleições legislativas, mas que “é uma realidade anterior ao despoletar da crise de 2007”.

Pelo CCB irão passar nos dias 3 e 4 de Outubro mais de 50 oradores portugueses e estrangeiros como é o caso, por exemplo, dos filósofos português Eduardo Lourenço, do brasileiro Roberto Mangabeira Unger, da turca Seyla Benhabib, e do francês Gilles Lipovetsky; do professor neozelandês de direito e filosofia Jeremy Waldron, da escritora e poetisa Maria Teresa Horta, do escritor canadiano e professor Michael Ignatieff.

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