Freitas do Amaral: Fundo de Defesa Militar do Ultramar e tráfico de armas no centro do atentado de Camarate

Prosseguem as audições da X Comissão de Inquérito à queda do Cessna que matou, em 1980, Sá Carneiro, Amaro da Costa e seus acompanhantes.

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Freitas do Amaral DR

O Fundo de Defesa Militar do Ultramar (FDMU) e o tráfico de armas são as duas questões centrais do atentado de Camarate, afirmou nesta terça-feira Diogo Freitas do Amaral na X Comissão Parlamentar de Inquérito à Tragédia de Camarate, a queda de um avião da qual resultou, em 4 de Dezembro de 1980, a morte do primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro, do ministro da Defesa, Adelino Amaro da Costa, e seus acompanhantes. Um acidente que, desde as conclusões da VIII Comissão Parlamentar de Inquérito, passou a ser considerado por todos os deputados como consequência de sabotagem.

Nesta terça-feira de manhã, na Assembleia da República, Freitas do Amaral retomou a tese do seu recente livro Camarate. “Amaro da Costa estava a meter o nariz e a progredir nas suas investigações”, afirmou Freitas do Amaral, então ministro dos Negócios Estrangeiros de Sá Carneiro, referindo-se à crescente preocupação do seu colega da Defesa sobre o tráfico de armas em Portugal. Não confirmando que Amaro da Costa, como revelou o seu chefe do gabinete, andava armado com pistola de calibre de guerra, Freitas do Amaral revelou que o ministro da Defesa recomendara ao seu motorista um caminho diferente todos os dias para o regresso a casa. A fonte é em primeira mão: o antigo motorista de Amaro da Costa é quem, desde a sua morte, conduz Diogo Freitas do Amaral.

Boa parte de audição do fundador do CDS incidiu sobre o FDMU, um verdadeiro “saco azul” nascido no tempo do salazarismo para, à margem do Orçamento, financiar a compra de armas para a guerra colonial. Um fundo que, apesar do fim da guerra, em 1974, e das colónias, em 75, continuou operativo. Segundo Freitas do Amaral, que também desempenhou as funções de ministro da Defesa durante 16 meses, entre Setembro de 1981 e Dezembro de 1982, tal fundo tinha uma existência opaca, à margem da estrutura do Governo e na dependência do Estado-Maior-General das Forças Armadas.

“Não sabemos se o fundo foi extinto”, disse. No entanto, já foi referido que o FDMU chegou a movimentar, através de duas contas bancárias, cerca de 88 milhões de contos, não se conhecendo, contudo, os responsáveis de tais movimentos. A mesma opacidade existiu, nos anos 80 do século passado, na venda de armas ao estrangeiro. Concretamente de quem as autorizava, à margem do escrutínio político dos responsáveis da Defesa e Negócios Estrangeiros.

Freitas do Amaral justificou a falta de clareza desta questão pelo momento político de então. Ou seja, a extinção do Conselho da Revolução, a nova lei das Forças Armadas e a sua subordinação ao poder civil: “Não sei se aconteceu, mas não fazia sentido entrar em pequenas guerras com o chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas.”

 

 
 
 
 

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