Freitas diz que não “traiu” o CDS-PP

Antigos presidentes escrevem depoimentos sobre o partido, que serão divulgados este fim-de-semana.

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Freitas do Amaral DR

O fundador do CDS-PP, Diogo Freitas do Amaral, sustenta que o seu afastamento para o centro-esquerda quando o partido caminhou para o centro-direita não implicou uma ruptura, já que “todos” se mantiveram no amplo espectro da democracia cristã europeia e mundial. “Ou seja, ninguém traiu ninguém”, escreveu o antigo ministro do governo socialista de Sócrates, num depoimento sobre os 40 anos do CDS.

O mesmo testemunho foi pedido a todos os ex-presidentes do CDS – Lucas Pires (escrito por Gomes de Pinho), Adriano Moreira, Manuel Monteiro, Paulo Portas e José Ribeiro e Castro – e foi compilado em livro que será divulgado online neste fim-de-semana, em que decorre a Escola de Quadros do CDS, em Ofir. Mais tarde estará disponível em papel para quem o pedir, mas não será comercializado.

Freitas do Amaral sublinha que tanto o CDS inicial como o actual “são de raiz democrata-cristã”. “Todos podemos, pois olhar-nos, falar-nos e cumprimentar-nos uns aos outros sem qualquer embaraço ou desconfiança. Continuamos irmãos mas separados. Que é o mesmo é dizer: separados mas irmãos”, lê-se no final do testemunho quando justifica a sua desfiliação no partido em 1992. Foi no momento em que o Parlamento votou o Tratado de Maastricht, com a oposição do CDS e do PCP, mas em que Freitas do Amaral votou a favor.

O fundador e presidente duas vezes do partido recorda como é que o CDS nasceu e cresceu nos conturbados anos 70. Como é que a “longa noite do Palácio de Cristal” (Janeiro de 1975) transformou o CDS no “primeiro teste à democracia”. E lembrou a criação da Aliança Democrática com o PSD (e com o PPM) em 1979, cuja iniciativa de formação “pertenceu à direcção do CDS”. É ainda recordado o período – que corresponde ao domínio absoluto de Cavaco Silva - em que era o “partido do táxi” por ter apenas seis parlamentares.

No seu depoimento, o actual presidente do partido dedica-se ao período de 1998 a 2005 (ano em que deixou o CDS após a derrota nas legislativas). Paulo Portas, que viria a retomar a liderança em 2007, sustenta que “o CDS deu à democracia uma ala direita sem a qual o regime ficaria manco” e que o partido “definiu fronteiras evitando qualquer extremismo ou populismo relevante na metade direita do espectro político”. Portas elogia a herança do institucionalismo no partido deixada por Adriano Moreira, mas é contrariado pelo seu testemunho do seu antecessor, Ribeiro e Castro, que critica a forma deficiente como funcionam os órgãos do CDS.

Relativamente ao eurocepticismo que marcou o partido nos anos 1990, Portas chama de “euro realismo” a posição que o CDS acabaria por tomar ao aceitar “o euro como um facto”. “A convergência do CDS era, portanto, recomendável e inevitável”, escreveu o actual líder, eleito oito vezes presidente do CDS, entre congressos e eleições directas.

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