Francisco Louçã e Daniel Oliveira trocam acusações e até Cavaco é chamado à polémica

Louçã recorreu à imagem do livro Os cinco na Ilha do Tesouro, de Enid Blyton. Oliveira questionou: “Serei eu o cão traidor? Que falta de senso e de gosto...”

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Começou há três dias e nada indica que não haverá novos episódios. Francisco Louçã, ex-líder do Bloco de Esquerda, e Daniel Oliveira, ex-militante do partido, trocam acusações inflamadas no Facebook. Algumas são políticas, outras nem tanto.

A polémica dura desde sábado, quando Ana Drago anunciou que sairia do BE, já depois da Associação Fórum Manifesto ter tornado pública a sua desvinculação do partido.

O apito da partida da troca de acusações entre Daniel Oliveira e Francisco Louçã foi dado num primeiro texto publicado pelo jornalista no Expresso, sob o título Ou queres governar ou serás sempre governado. Nessa dissertação – e sem qualquer referência a Louçã –, Oliveira começa por afirmar que “a esquerda precisa de quem seja duro de roer mas saiba chegar a compromissos”, deixando a porta aberta à criação de um novo “sujeito político” que se apresente às legislativas do ano que vem. Aí, repete que o PS é indispensável numa coligação de esquerda que pretenda governar o país.

Menos de 24 horas depois, Louçã não resistiria à tentação de responder a Daniel Oliveira, mas analisando também a saída de Ana Drago do BE. Num post que intitulou Duas coisas sensatas, uma boa e outra nem por isso (e que mais tarde estaria disponível no esquerda.net), o ex-coordenador do BE conclui que os dois ex-militantes desistiram dos problemas do país, mas pelo meio analisa o modo como considera que Drago e Oliveira mudaram de opinião em relação ao Tratado Orçamental e até à saída do euro.

O Tratado Orçamental continua a ser uma fronteira intransponível para os bloquistas, diz Louçã, que acusa os dissidentes de serem agora capazes de aceitar o que antes consideravam um “atentado à soberania” em nome da possibilidade de governarem com o PS. Mudaram de posição num processo “relâmpago”, defende.

Ainda antes, Louçã reconhece a decisão “sensata” de Ana Drago ter abandonado a Assembleia Municipal de Lisboa, aproveitando o reconhecimento para, indirectamente, afirmar que outros que foram eleitos pelo BE não fizeram o mesmo. “Alguém que abandona um partido, para criar outro, só poderia ficar com esse mandato se quisesse desrespeitar os eleitores. Esta escolha prova maturidade democrática (e uma bofetada de luva branca a quem procede ao contrário, em benefício da sua carreira)”, escreve, mas sem acusar directamente o antigo eurodeputado Rui Tavares.

A foto a acompanhar o texto não provocaria menos tumulto. A imagem do livro Os cinco na Ilha do Tesouro, de Enid Blyton, levaria mesmo Oliveira a questionar: “Serei eu o cão traidor? Que falta de senso e de gosto...”

E eis que surge poucas horas depois, também no Facebook, a resposta de Daniel Oliveira: Ler o texto até ao fim: o que Louçã diz de Louçã.

“Que a fixação de Louçã na minha pessoa (e no Rui Tavares) já tem barbas e já não interessa nem ao menino Jesus”, começa por afirmar, para passar à parte política da questão. A acusação é semelhante: “Já Louçã, como soubemos de um dia para o outro, mudou de opinião. Antes das europeias e durante a sua participação na campanha do Bloco era contra a saída do euro; depois das europeias é a favor da saída do euro”.

Na resposta, Oliveira acusa o economista de tentar caricaturar a saída Manifesto do Bloco, de ser pouco rigoroso quando analisa posições divergentes das suas e de tentar transformar essas mesmas divergências em "acusações morais". Viria aí então a parte mais incómoda, com o ex-militante bloquista a acusar Louçã de pensar ao estilo de Cavaco Silva.

“Na verdade Loucã pensa como Cavaco: pessoas inteligentes perante a mesma informação só podem chegar à mesma conclusão. Se não o fazem é porque ou são intelectualmente limitadas ou estão a ser desonestas”, conclui Oliveira.

Já esta quinta-feira - e depois da primeira versão deste texto - Louçã respondeu novamente no facebook: "Todos evoluímos e mudamos de posição quando a vida tanto nos ensina. Há no entanto uma diferença entre mudar de opinião por convicção ou por conveniência. Há uma diferença entre procurar soluções para Portugal e procurar soluções para si próprio". Um pouco mais adiante acusaria então Oliveira de desistir da esquerda em troca de "um lugar de secretário de Estado" num futuro governo socialista. Desta vez, escolheu outra foto da mesma colecção para ilustrar o post: Os Cinco na casa do Mocho.

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