Ferro exige explicações sobre a “bolsa VIP” de contribuintes

Costa criticou o alcance do programa VEM face à dimensão do fenómeno da emigração nos últimos anos.

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Ferro Rodrigues e António Costa Nelson Garrido
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António Costa Nelson Garrido
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Maria de Belém Nelson Garrido

O líder da bancada parlamentar do PS. Eduardo Ferro Rodrigues, declarou esta sexta-feira que vai exigir o esclarecimento da chamada “bolsa VIP” de contribuintes, porque considera que as explicações prestadas pelo primeiro-ministro e de outros membros do Governo não foram convincentes.

Discursando na sessão de abertura das jornadas parlamentares do PS, que decorrem até sábado em Vila Nova de Gaia, Ferro Rodrigues pediu explicações sobre essa suposta lista de contribuintes VIP, com contribuintes mediáticos, da área política, financeira e económica, a cujo cadastro terá sido aplicado um filtro que permite detectar quem lhe acede, noticiada pela revista Visão. “Não fiquem ilusões porque o PS a todos os níveis, no Parlamento e fora do Parlamento, quererá saber exactamente o que se passa com a chamada bolsa de contribuintes de VIP”.

E prosseguiu: “O primeiro-ministro respondeu-me [no debate quinzenal de quarta-feira passada] que a bolsa não existia, mas resguardou-se sempre num comunicado das finanças e dos responsáveis administrativos, mas agora há um dirigente sindical a dizer que há mesmo essa lista VIP e que foi entregue pelo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais [Paulo Núncio]".

Ferro entende que o assunto suscita contradições e sublinha que a questão não é judicial, mas sim política. Indiferente às ameaças do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, que anunciou já que vai processar os autores da denúncia, Ferro Rodrigues declarou que "esta é uma questão política. Queremos que esta questão fique clara e aquilo que o primeiro-ministro disse, para nós, não chega".

Ferro Rodrigues, que tem sido alvo de críticas pelo desempenho à frente do grupo parlamentar, criticou duramente o Governo. “Nos últimos quatro anos, o país conheceu uma degradação das determinantes sociais e um retrocesso social, económico e financeiro sem paralelo, em nome de uma deriva ideológica adversa ao poder público, aos direitos sociais e à inclusão social”, declarou Ferro na sessão de abertura das jornadas.

No dia em que uma sondagem da Eurosondagem para o Expresso e SIC dá o PSD a descer ligeiramente nas intenções de votos dos portugueses e o PS a aguentar-se nos 38,1%, o ex-líder socialista  aproveitou para carregar nas tintas e afirmar que as “políticas [do Governo] conduziram muitos portugueses ao limite dos padrões mínimos exigidos para um nível de vida digno e decente”. E depois atirou com números.

“Nos últimos quatro anos assistimos ao aumento dramático da pobreza (há hoje em Portugal 2,7 milhões de pessoas em risco de pobreza, mais 450 mil do em 2011); um em cada quatro portugueses está hoje em risco de pobreza”, apontou o deputado, enfatizando os casos em que as situações são “mais preocupantes”, como acontece com as crianças e jovens, cujos níveis de taxa de risco real elevam-se para mais de 31%), e com os iodos ( 25,5%)”. “Mais de 570 mil crianças e jovens estão em risco de pobreza e este fenómeno é ainda mais severo nas crianças que vivem em famílias monoparentais”, disse.

Costa aponta “inconsciência” do Governo face ao VEM
Ao final da manhã, em declarações aos jornalistas, o secretário-geral do PS, António Costa, também não poupou o Governo de maioria de direita, acusando-o de revelar “inconsciência” face à dimensão do fenómeno da emigração ao propor um programa de alcance mínimo e de ter seguido uma política que "devastou" a classe média.

Um dia depois de o Governo ter aprovado em Conselho de Ministro um programa para apoiar o regresso de emigrantes, Costa criticou o alcance do programa VEM face à dimensão do fenómeno. "Nos últimos anos, o país terá perdido cerca de 300 mil pessoas, dos quais cerca de 110 mil jovens (alguns deles extremamente qualificados), regressando aos níveis de perda de capital humano da década de 60. Aquilo que o Governo apresentou na quinta-feira, com a criação de 40 a 50 projectos para as pessoas poderem regressar, é não ter mesmo consciência do que aconteceu no país nestes últimos três anos", criticou.

"Isto não é um programa, mas algo que não dignifica a consciência que os agentes políticos têm de possuir face a realidades sociais que enfrentam", destacou.

Centradas na realidade económica e social do país, as jornadas parlamentares do PS são o pretexto para António Costa e Guilherme Pinto, presidente da Câmara de Matosinhos, se encontrarem no jantar que está marcado para a noite desta terça-feira num restaurante em Leça da Palmeira.

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