Falta-nos juízo

Aos que dançam com a prisão provisória de Sócrates lembro que a alegria popular seria a mesma fosse qual fosse o político preso, desde que estivesse mais rico do que quando "entrou para a política". Seriam, a bem ver, quase todos.

A prisão de José Sócrates não é uma condenação ou uma sentença: é uma maneira de apurar responsabilidades criminosas que podem trazer informações importantes que, ao mesmo tempo, provam que ele próprio, José Sócrates, não lucrou com elas. Ainda não sabemos. Só saberemos (talvez) quando (e se) for julgado.

Como um cidadão que já foi várias vezes condenado (e outras tantas ilibado) pelos juízes verdadeiramente incorrompíveis de Portugal, sei que a inocência e a culpa são relativas.

Dizem que as intenções não interessam mas, para os juízes (e para o benéfico Ministério Público), a inocência nas intenções, por muito graves que tenham sido as consequências, é tratada como uma atenuante que pesa.

Nunca fui preso, apesar de alguns disparates e de uma única patifaria. Acho que a minha liberdade se deve à minha falta de riqueza. Nunca ganhei mais do que juízo — e mesmo assim em pequena quantidade.

Aos que dançam com a prisão provisória de Sócrates lembro que a alegria popular seria a mesma fosse qual fosse o político preso, desde que estivesse mais rico do que quando "entrou para a política". Seriam, a bem ver, quase todos.

É um facto que Portugal, por muito defeituoso que seja, tem um método judicial que, não obstante os atrasos e as manigâncias, obtém resultados, graças à excelente qualidade da nossa magistratura, que tende a ser inteligente, empática e justa.

A nossa tragédia é não sabermos — e não queremos — esperar por ela.

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