Falta de gente?

Em parte alguma um bom trabalhador se faz sem anos de experiência numa boa empresa.

A esplanada, com o rio e o centro da cidade à frente, estava vazia. Os restaurantes tinham muito pouca gente. Os bares também. E tudo aquilo parecia abandonado. Pouco a pouco, percebi qual era o problema: não havia, ou quase não havia empregados. Ou se ia buscar um ou se esperava que o próprio patrão aparecesse, com um ar apressado do fundo da casa. Num restaurante, de resto óptimo, um único rapaz (provavelmente filho do dono) corria de mesa em mesa com pilhas de pratos e prodígios de equilíbrio. Mas, mesmo quando tudo chegava a tempo ou com uma demora razoável, o espectáculo acabava por ser vazio e deprimente, com um vago ar de clandestino. Claro que no norte existem milhares de portugueses que não se importariam de trabalhar nos meses de Verão. Só que ninguém os contrata.

O dr. António Costa pede por aí confiança. Não lhe disseram a tempo que a confiança não se pede. Vem da certeza que certas regras se cumprem, suceda o que suceder. Isto vale tanto para pessoas como para instituições. Ora, se o dr. Costa fosse proprietário de um restaurante em, por exemplo, Vila Real não iria encher a sua casa com “trabalhadores precários”, se a esquerda inteira do PC ao PS passasse a vida a protestar contra a “precariedade” e prometesse, dia sim, dia não, eliminar essa iniquidade da face do país. Como um homem prudente, o dr. Costa esperaria que as coisas se resolvessem para avançar com segurança. E, entretanto, os desempregados continuariam sem emprego e sem um tostão no bolso. A esta correctíssima atitude se chama, em certos meios, “política social”.

As consequências não custam a imaginar. Hotéis, restaurantes, bares e outas invenções continuam a abrir por Portugal inteiro, com grande publicidade nos jornais e, de quando em quando, na televisão, para fechar uns meses depois por falta de freguesia; e a freguesia não se apresenta porque não está para jantar com o dono e a sua família. O governo anuncia que o turismo, interno e externo, não pára de aumentar. Acredito que sim. Infelizmente, o pessoal especializado também não pára de diminuir. Em parte alguma um bom trabalhador se faz sem anos de experiência numa boa empresa. Agora, com a “confiança” em Costa, que não decidiu ainda se é candidato a primeiro-ministro ou agitador de uma “Jota” qualquer, os caminhos “precários” são estreitos e não se consegue adivinhar o que os vai substituir.

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