Ex-chefe de Estado-Maior da Armada critica simplificação do conceito estratégico de defesa

Vieira Matias lamenta que proposta do Governo passe ao lado da defesa da plataforma continental.

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O ex-chefe de Estado-Maior da Amada considera que a proposta para o novo Conceito Estratégico de Defesa Nacional que deu entrada no Parlamento, vindo do Governo, é um documento com “simplificações excessivas em várias áreas”, quando comparado com o trabalho produzido pela equipa liderada por Luís Fontoura.

“O documento entregue aqui [na Assembleia de República] é um documento com simplificações excessivas em várias áreas”, criticou esta terça-feira de manhã o almirante Vieira Matias, falando na conferência sobre as Grandes Opções do Conceito Estratégico de Defesa Nacional, organizada pela comissão parlamentar de Defesa.

Como exemplo, o ex-chefe do Estado-Maior da Armada falou da sua “angústia” sobre “a forma como é tratada a plataforma continental”, não só aquela que já existe e que representa 18 vezes o território continental nacional, mas também a sua ambicionada ampliação para uma área bem mais vasta e que é equivalente a 40 vezes o território.

A questão vem “fragilmente tratada” nas grandes opções definidas pelo Governo, quer nos objectivos de estratégia de defesa, afirma o almirante, adiantando que o documento “não fala no território submerso”, além de que se “passa ao lado da defesa da plataforma continental”.

As críticas do almirante Vieira Martins não se ficam por aqui. Diz também que a proposta governamental “não aborda nas ameaças ao território”, que classifica como as “cobiças, as invejas” de grandes países para com um pais que já tem, consideram esses Estados, uma plataforma grande que “agora, espera-se, vai aumentar”-

Questionado sobre o que pensa desta “simplificação”, Luís Fontoura, antigo dirigente do PSD e presidente da comissão de revisão do Conceito Estratégico de Defesa, afirmou que “ninguém teve a amabilidade” de lhe mandar esse documento chamado Grandes Opções do Conselho Estratégico Nacional. “De maneira que não sei o que está nesse papel. Penso que iremos muito mal, mas mesmo muito mal, se não tomarmos na devida consideração o que acabou de dizer”, realçou Luís Fontoura.

“Ou nos vamos remeter a ser este bocado de terra aqui na Europa, com o agravamento irreversível de todos os factores, ou vamos para o caminho de transformar a plataforma portuguesa numa questão de interesse permanente”, defendeu o ex-dirigente do PSD.

Fontoura lembra que a relação de Portugal com o mar “é secular”, e é no mar que o país pode encontrar “o seu enriquecimento” para que a economia tenha “razões para acreditar no seu futuro”.

Luís Fontoura desejou que o Parlamento “se faça ouvir” nesta questão, preocupando-se “com as questões da defesa e da segurança nacional e não apenas com as coisas do dia-a-dia”.

“Este nosso estudo não pretendeu significar críticas nem aplausos aos governos anteriores ou ao actual. Fundamentalmente, não quis ser uma proposta ou programa de governo”, vincou o responsável pela comissão de revisão. “Deixamos ideias.”

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