“Evitei que Otelo fosse morto com 17 quilos de gelamonite”

"Fui designado pelo directório da Flama para desmobilizar os quatro encapuzados que preparavam um atentado contra Otelo”, confessou Costa Miranda ao PÚBLICO.

“Iria transformar um inimigo em mártir e seria trágico para o movimento porque somos um povo de brandos costumes”, justifica ao recordar que o candidato presidencial, em campanha na Madeira, se fazia transportar num autocarro cheio de crianças. “Ia ser uma carnificina”...

“Se isso acontecer, todos os indivíduos envolvidos sofrerão consequências”, terá, segundo o dirigente flamista, advertido o governador militar da Madeira. O brigadeiro Car-

los Azeredo, ao tomar prévio conhecimento, asseverara ainda que “o fim de Otelo será o fim da Flama”.

A 17 de Junho de 1976, Miranda dirigiu-se à Ponte do Seixo, em Água de Pena, com o objectivo de fazer abortar a operação para matar o ex-comandante do Copcon, plano de que o capitão João Machado diz ter sido o mentor. Este militante do CDS-PP, co-

-fundador da FAMA (fórum criado por Jardim e considerado sucedâneo da Flama), assumiu-se também como um dos organizadores da ocupação da antiga Emissora Nacional, em Novembro de 1975, acusada de ser “uma voz comunista” e posteriormente destruída pela deflagração de uma potente carga explosiva.

Miranda diz desconhecer quem foram os operacionais dos atentados, enquanto Daniel Drumond garante que “Jardim estava a par de tudo”. Por isso, quando ascendeu ao poder, em 1978, acordou com membros do directório da Flama o fim dos atentados.

A quebra do “pacto de silêncio” sobre esse período poderá explicar a estranha morte dos flamistas Jorge Cabrita, Júlio Esmerado e José Bacanhim, todos em circunstâncias nunca esclarecidas. Antes, ainda no auge do bombismo, morreram dois jovens simpatizantes: Rui Alberto, também militante da Juventude Centrista, quando manuseava uma bomba-relógio que explodiu nas suas mãos, no Porto Santo, e, Alírio Fernandes, que tinha levado a gelamonite para aquela ilha, apareceu enforcado na prisão militar de Santiago. T. de N.

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