Eufórico com cinco câmaras, Portas perdeu pouco tempo a comentar derrota da coligação

“Onde ganhámos, ganhámos juntos; e onde perdemos, perdemos juntos”, afirmou o líder do CDS sobre as coligações com o PSD. E avisou que se deve “meditar” sobre descida nas zonas urbanas.

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Adriano Miranda

Foi uma espécie de 5,5 vitórias, que terão tido um sabor especial porque na sua maioria foram câmaras conquistadas ao PSD. O CDS-PP deixou ontem de saber o que era a ”solidão autárquica” e passou de uma câmara municipal, Ponte de Lima, que detinha há dez anos e onde ganhou com maioria absoluta, para a presidência de cinco municípios. À autarquia minhota juntaram-se a de Albergaria-a-Velha e de Vale de Cambra, ambas no distrito de Aveiro, e tradicionais disputas entre centristas e sociais-democratas; a açoriana Velas, na ilha de São Jorge, conquistada ao PS, e a madeirense Santana, detida pelo PSD com maioria absoluta há pelo menos duas décadas.

A estas vitórias com a chancela oficial e solitária do CDS, junta-se outra, pela qual os centristas vieram ontem cedo (15 minutos depois das projecções) a terreiro clamar: a do independente Rui Moreira no Porto, que era apoiado pelo CDS. Diogo Feio veio falar na “enorme satisfação” por uma “grande vitória”.

“É o penta do CDS”, que volta a ser “um partido relevante nas autarquias locais”, dizia orgulhoso Paulo Portas, rodeado por dirigentes como Pedro Mota Soares, António Pires de Lima, João Almeida e Nuno Magalhães. Mas não só: “É sobretudo interromper um declínio; é sobretudo recuperar o que um dia tínhamos perdido. É sobretudo alargar a nossa influência como partido nacional”, vincou Portas, para lembrar a seguir que “terão de contar com o CDS na Associação Nacional de Municípios”. O partido, disse, cumpriu e superou todos os objectivos “humildes” que traçara para estas eleições — que são “tradicionalmente difíceis” —, mesmo tendo feito uma campanha em que teve como “norma uma gestão moderada de expectativas”.

O resultado do CDS, por isso, realçou o líder, “é um dos factos menos esperados por alguns nesta noite eleitoral”, sem fazer referências directas — mas talvez tendo em mente o roubo de três autarquias ao PSD. “Há oito anos que o CDS tem apenas uma câmara; há mais de 30 que o CDS vem descendo nos seus resultados autárquicos”, descrevera, 40 minutos antes, o porta-voz João Almeida. Foi dele a frase que resumiu a noite dos centristas: “A solidão autárquica do CDS terminou.”

Se João Almeida, Diogo Feio e António Carlos Monteiro se haviam esquivado a análises nacionais, Portas reservou o final do seu discurso de quase dez minutos para o desaire nacional do PSD, com o qual o CDS concorreu em muitos municípios coligado. “Onde ganhámos, ganhámos juntos; e onde perdemos, perdemos juntos”, disse o líder centrista, depois de garantir o “orgulho” do partido nessas alianças. Mas deixou um recado em jeito de aviso para a São Caetano à Lapa: “É evidentemente preocupante a descida de votos nalguns meios urbanos e isso deve ser meditado.” E olhou depois para o lado positivo, salientando que “apesar das dificuldades houve vitórias relevantes, por exemplo, em Aveiro, Braga, Guarda”.

Na sede do partido, em Lisboa, viveu-se uma noite absolutamente pacata, sem apoiantes, nem bandeiras nem hinos. As cerca de três dezenas de cadeiras da sala onde os dirigentes falaram só encheram para ouvir Paulo Portas, com os jovens a empunhar algumas bandeiras, que aplaudiram algumas vezes. Mas depressa dispersaram, quando Portas acabou de falar.
 

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