Debate interno no PS começa a olhar para o passado

Em duas entrevistas de fundo, António José Seguro e António Costa divergiram muito. Mas é a história recente, do partido e do país, que traça a fronteira principal entre os dois.

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Seguro e Costa defrontam-se nas primárias marcadas para 28 de Setembro Nuno Ferreira Santos

“Eu não trago nenhum passado de volta”, garantiu Seguro. “Nenhum de nós consegue libertar-se do passado que tem”, contrapôs Costa. Nesta subtil, quase filosófica, diferença reside uma das linhas que farão, no dia 28 de Setembro, com que os militantes e simpatizantes do PS optem por um, ou pelo outro, na escolha marcada para as primárias.

É a forma, distinta, como os dois candidatos olham para o caminho político que o país percorreu que começa por separá-los. Seguro, na entrevista que deu esta terça-feira à noite à Radio Renascença, demarcou-se, totalmente, pela primeira vez, do acordo que o PS assinou, no final do Governo Sócrates - e que foi, também, subscrito por PSD e CDS - com a troika, em 2011.

“Se eu negociasse o memorando (…) era este o memorando que tinha negociado? Claro que não era.” Na opinião do secretário-geral do PS, é nesse momento que residem não só grande parte das dificuldades por que passa o país, como também boa parte das agruras da sua própria experiência, à frente de um partido que é visto pelos portugueses como responsável pela situação.<_o3a_p>

António Costa, numa entrevista na SIC Notícias, identifica outro momento, também em 2011: “O primeiro grande erro desta direcção do PS” foi a chamada “abstenção violenta” dos deputados socialistas ao primeiro Orçamento do Estado apresentado pelo Governo de Passos Coelho. Para Costa, esse orçamento, “que duplicava a austeridade” acordada no memorando inicial, é a origem da principal dificuldade do PS. A saber: “Nunca conseguiu libertar-se da agenda que este Governo impôs.”<_o3a_p>

Costa também se referiu a José Sócrates. Mas as críticas que endereçou ao Governo anterior serviram, desde logo, para mostrar como é “natural” que se reconheçam os erros. E essa era uma farpa para Seguro. Entre as culpas do PS, que devem ser reconhecidas, Costa elege o “voluntarismo” que levou, entre outras, a uma “guerra com os professores”.<_o3a_p>

“Um líder do PS não enjeita nenhuma da história do partido”, dissera Seguro, na Renascença. “O PS fingiu que não havia passado. E ficou numa posição embaraçada”, criticou Costa, na SIC.<_o3a_p>

No momento em que a sua liderança é disputada por António Costa, o secretário-geral diz sentir-se “um pássaro fora da gaiola”. Isto porque deixou de ter “cuidado” na forma como se apresenta e fala em público. “Sinto que recuperei totalmente a minha liberdade para dizer tudo aquilo que penso sobre a situação interna do partido”.<_o3a_p>

Ao longo da entrevista, Seguro revela ainda que, se tivesse assinado o compromisso com o Governo, que foi negociado há quase um ano por influência de Cavaco Silva, após a demissão de Vítor Gaspar, teria “traído” as suas convicções.<_o3a_p>

António Costa explicou por que razão decidiu avançar: “Precisava de dar esse passo para ficar de bem com a minha consciência”. Evocou a sua “longa experiência” em “unir” pessoas e situações desavindas. Voltou a defender a sua “agenda para a década” e a sua intenção de iniciar um “novo consenso europeu”. <_o3a_p>

Sobre os incidentes em Ermeside, após a reunião da Comissão Nacional do partido, em que António Costa foi alvo de insultos, Seguro diz que “são censuráveis e deveriam ser evitados”. Contudo, não deixa de atribuir parte da responsabilidade ao seu adversário: “Compreendo que quando António Costa não apresenta ideias diferenciadoras que seja difícil existir debate, aliás por alguma razão ele tem recusado debater comigo nas televisões que já propuseram esse debate. Julgo que rapidamente se ele aceitar esses debates, naturalmente as coisas confrontam-se onde devem ser confrontadas, isto é, no plano das ideias e das propostas”.<_o3a_p>

Costa foi breve, sobre os incidentes. “Foi um facto, espero, isolado.” <_o3a_p>
 

 

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