Estratégia de pedir condições mais favoráveis a Bruxelas foi concertada com CDS

Paulo Portas afirma que o pedido de Portugal para obter melhores condições de pagamento do empréstimo à troika foi “a decisão certa, no momento certo e com a companhia certa”.

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Paulo Portas diz que foi "a decisão certa no momento certo" Daniel Rocha

A disponibilidade de Bruxelas para aceitar condições mais favoráveis aos empréstimos de Portugal foi um bálsamo para a coligação PSD/CDS, ao amenizar a relação entre Paulo Portas e o ministro das Finanças, Vítor Gaspar. A estratégia de pedir em Bruxelas condições idênticas às que foram concedidas à Grécia foi concertada no seio da coligação, apurou o PÚBLICO.

Os centristas sublinham agora a importância da credibilidade externa de Vítor Gaspar e a escolha acertada do momento para pedir condições mais favoráveis para Portugal. "Reconheça-se a Gaspar que é melhor pedir agora do que quando a Grécia pediu", comentou um dirigente centrista, lembrando, no entanto, que o CDS tem reclamado nos últimos meses uma atitude mais pró-activa junto dos credores. Por isso, resumia: "O PSD acha que temos de dar razão ao ministro Gaspar, nós achamos que o Gaspar nos deu razão."

Esta manhã, o líder do CDS e ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, deu voz aos elogios ao ministro das Finanças, considerando que o pedido de Portugal para obter melhores condições de pagamento do empréstimo à troika foi “a decisão certa, no momento certo e com a companhia certa”.
 

O ministro, que falava aos jornalistas à margem da assinatura de um protocolo com um consórcio de empresas tecnológicas, em Lisboa, acrescentou que se Portugal conseguir melhores condições ficará a dever-se em grande medida à forma como os portugueses enfrentaram os sacrifícios.

Em Novembro, quando a Grécia obteve um alargamento dos prazos dos reembolsos dos empréstimos do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, desaconselhou vivamente Portugal a fazer um pedido idêntico, dizendo que "seria um sinal terrível". A resposta foi dada na sequência de uma interpelação do eurodeputado do CDS Diogo Feio, no Parlamento Europeu.

Dias depois era o próprio Paulo Portas que remetia esse pedido para uma outra altura. Referindo-se à parcela do acordo com a Grécia que "pode ter aplicação a outros países com programas de assistência", Portas defendeu que "no momento certo" Portugal "deve beneficiar e evidenciar a regra segundo a qual quando há circunstâncias institucionais semelhantes se aplicam regras semelhantes".

Há vários meses que o CDS vinha a alertar para a necessidade de Portugal reivindicar condições mais favoráveis junto de Bruxelas para os empréstimos da troika, com o argumento de que o país está a cumprir e que por isso merece ser recompensado.

A última chamada de atenção foi feita na carta enviada à troika, a propósito da sexta avaliação, em que os deputados do CDS sublinham que "Portugal tem sido um país diferente e cumpridor" e que "merece por isso todos os apoios e as condições necessárias para finalizar o programa de forma segura".

Na terça-feira, o elogio do CDS ao ministro das Finanças fora já dado abertamente pelo ex-líder do partido Ribeiro e Castro, que considerou a iniciativa do Governo, e em particular de Gaspar, como "um movimento no tempo e na medida exacta, um movimento de mestre".

A posição de Gaspar no Governo sairá reforçada caso se venha a confirmar que o défice de 2012 se fixa nos 5% previstos (ou num valor muito próximo, como ontem era avançado pelo próprio ministro).

Também o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, salientou a importância do regresso aos mercados, mas sem fazer qualquer elogio explícito à estratégia de Vítor Gaspar.

"Obviamente que é um passo importante na nossa caminhada de restabelecimento de credibilidade de Portugal perante a comunidade internacional. Conseguimos mostrar ao mundo que, apostando em políticas de consolidação orçamental e reformas económicas importantes e também na concertação social, conseguimos mostrar que Portugal claramente se distancia de outros países em dificuldades", afirmou o ministro.

Álvaro Santos Pereira, que falava aos jornalistas à margem de uma visita à empresa ROFF, em Algés, considerou que o regresso anunciado aos mercados financeiros é prova de que Portugal está a fazer o seu trabalho para voltar à normalidade e voltar a crescer.

"O que estamos a fazer, e o que tem acontecido nos últimos meses, são passos importantes para conseguirmos que este financiamento da economia nacional, quer para o Estado, quer para os bancos, quer para as empresas, volte à normalidade", sustentou.

O ministro admitiu que uma das principais dificuldades passa pela falta de financiamento das empresas que, mesmo quando o conseguem, têm taxas de juro elevadas.

"Ora, com este passo de voltarmos a conseguir assegurar que o financiamento da economia aconteça, isso reflecte-se nos bancos, nas empresas e depois no desenvolvimento normal da actividade económica. Portanto, é um passo importante para a nossa credibilidade, nesta nossa caminhada de voltarmos a uma situação que temos o pleno financiamento da economia portuguesa", concluiu Álvaro Santos Pereira.
 
 

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