Está a ser feito um "trabalho silencioso" para normalizar relações entre Portugal e Angola, diz embaixador

O embaixador de Angola em Portugal, José Marcos Barrica, afirmou que "está a ser feito um trabalho em surdina, de diplomacia silenciosa" para melhorar a relação entre os dois países, salientando que "os políticos também sabem descomplicar".

No final de um almoço-debate promovido pelo International Club of Portugal, José Marcos Barrica enfatizou que "uma coisa são as questões de natureza política, e outra são os afectos, os sentimentos, as relações entre as pessoas" e acrescentou que "os políticos são por vezes complicados, mas também sabem descomplicar".

Questionado especificamente sobre se o diferendo diplomático entre os dois países tinha sido sanado, respondeu: "Trabalha-se permanentemente, estamos a trabalhar."
Para o embaixador, há uma relação de dependência, de interdependência entre os dois países", e por isso "devemos trabalhar para aproveitar as vantagens dessa relação e contrabalançar as eventuais desvantagens".

Antes, o embaixador tinha recuperado a imagem das zangas entre família, para defender que "nas organizações, nas famílias, entre irmãos, há zangas; e as relações entre países também conhecem esta situação: ora estão tensas, ora estão boas. O importante é estar acima dos problemas e avançar na direcção daquilo que constrói, do que nos une."

Marcos Barrica disse que "estamos aqui exactamente porque não há espaço para alimentarmos aquilo que eventualmente num primeiro momento nos divide", e acrescentou que "o importante é ir buscar pontos de encontro e pontes que para a nossa relação, que é histórica e fraterna, se realize".

A tensão diplomática entre Portugal e Angola, que levou o Presidente angolano a anunciar a 15 de Outubro de 2013 o fim dos planos de constituição de uma parceria estratégica com Portugal, começou em Novembro de 2012, quando o semanário Expresso noticiou a existência de um inquérito-crime no Ministério Público português contra altos dirigentes angolanos.

Na altura, o jornal falava em indícios de fraude fiscal e branqueamento e referia-se concretamente ao vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, ao general Hélder Vieira Dias "Kopelipa", ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança da Presidência da República, e ao general Leopoldino Nascimento "Dino", consultor do ministro de Estado e ex-chefe de Comunicações da Presidência da República.

Posteriormente, numa entrevista à Rádio Nacional de Angola, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Rui Machete, pediu desculpa a Luanda pelas investigações do Ministério Público, declarações que provocaram polémica em Lisboa e levaram a oposição a pedir a sua demissão. Durante a intervenção no almoço-debate o embaixador angolano passou em revista o desenvolvimento de Angola na última década, salientando os progressos alcançados desde o fim da guerra civil.
 

   

Sugerir correcção
Comentar