Politólogos reticentes sobre ideia de candidato presidencial apoiado por PS, PSD e CDS

André Freire considera que seria a "morte da democracia".

Foto
Durão apela à responsabilidade de todos os políticos Vincent Kessler/REUTERS

A proposta de Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, de os três partidos – PS, PSD e CDS – apoiarem um só candidato às próximas eleições presidenciais, recolhe muito pouca compreensão por parte dos politólogos. Num ponto há concordância: é prematuro falar-se em candidatos à Presidência da República.

Numa entrevista ao Expresso/SIC Durão Barroso auto-excluiu-se como candidato às presidenciais de 2016, mas avançou com a ideia de haver um consenso entre as principais forças políticas em torno de uma figura, à semelhança do que defende para as legislativas.

Nos três partidos visados, a ideia foi recebida com relutância e com muita prudência. Entre os politólogos contactados pelo PÚBLICO o tom de condenação é geral.

António Costa Pinto, investigador coordenador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, lembra que as presidenciais são diferentes das legislativas por terem candidaturas “individuais”. Mas o que considera mais interessante das declarações de Durão Barroso é que conclui que o PS “não terá maioria nas legislativas” e que “não constituirá uma maioria estável”. De qualquer forma, António Costa Pinto relativiza a proposta por ser ainda “muito cedo” para pensar nas presidenciais de 2016.

Mais cáustico é André Freire, professor do ICSTE - Instituto Universitário de Lisboa, que considera a proposta “um desastre e o fim da democracia”. “Era despolitizar o sistema político. Era matar a democracia. A democracia vive de alternativas”, afirmou. Para este politólogo, o tipo de consenso que está a ser pedido “parece a União Nacional e o doutor Salazar, mutatis mutandis”. Outro argumento é aduzido contra a proposta de Durão Barroso: “Querem mais um incentivo para abstenção? Digam 'votem em partidos' e nada muda.”

Carlos Jalali, director do mestrado em Ciência Política na Universidade de Aveiro, lembra o horizonte temporal da ideia, tendo em conta que os Presidentes da República são, normalmente, reeleitos para um segundo mandato. “Estamos a falar de 2026. É um cenário que se afigura improvável quer historicamente quer por parte dos partidos”, sustentou. Em termos históricos, prosseguiu, só Ramalho Eanes conseguiu um vasto apoio nas presidenciais de 1976. Quanto aos partidos, Carlos Jalali lembra que as legislativas acontecerão alguns meses antes das presidenciais. “Nessa altura já os partidos têm os seus candidatos”, afirmou.

Na entrevista, Durão Barroso defende um entendimento entre PS, PSD e CDS não só para as presidenciais mas também para as legislativas. “Porque senão um Governo sem maioria parlamentar não terá quaisquer condições de levar a cabo algumas reformas que ainda vão ter de continuar”, justificou o ainda presidente da Comissão Europeia.
 

   

Sugerir correcção
Comentar