Espanhóis do novo partido Podemos vêm a Lisboa debater com activistas portugueses

Durante a tarde de sábado, no teatro da Barraca, em Lisboa, o exemplo espanhol será o ponto de partida para um debate sobre “novas formas de organização”

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O movimento Que se Lixe a Troika é um dos organizadores do encontro da Barraca Enric Vives-Rubio

“Podemos falar?” O título do debate encerra mais do que uma pergunta. É quase um repto. A parte do “podemos” é fácil de explicar: é o nome do partido criado em Espanha, por activistas das manifestações anti-austeridade (15 M), em tempo relâmpago (três meses, já em 2014) e que conseguiu obter 8% dos votos e quatro eurodeputados nas últimas eleições.

Mas há, na interrogação, uma subtil referência a Portugal que não tem um Podemos. Daí a pergunta: pode-se, ao menos, falar? “Sim, Podemos Falar, colocando questões, sem as limitar”, adiantam os 15 subscritores desta iniciativa.

Paulo Raposo, professor de Antropologia no ISCTE, é um dos organizadores do encontro que vai decorrer no sábado, entre as 14h30 e as 18 horas, na Barraca, em Lisboa. Garantindo que criar uma “réplica do Podemos”, em Portugal, não é um dos objectivos deste debate, adianta que “está na hora de percebermos que, além das manifestações, temos de assumir também forma de organização política”. Isto porque, em Portugal e noutros países europeus, as grandes manifestações anti-troika dos últimos anos não resultaram em mudanças que se vejam: “Temos de perceber porque as manifestações têm sido inconsequentes .”

Com Paulo Raposo, neste encontro estão alguns dos principais organizadores do Que Se Lixe a Troika, mas também outros activistas que não participaram nesse grupo. Há militantes “de base” do PCP, do BE e do LIVRE, e vários participantes em movimentos ecologistas, de direitos sexuais, professores universitários e um sindicalista, António Mariano, do sindicato dos estivadores.

“Queremos aprender como dotar de poder político as pessoas que estão fora do sistema de decisão política”, continua Raposo. “Se daqui surgir a ideia de criar um modelo semelhante, óptimo, mas não é essa a nossa intenção”, conclui o antropólogo.

Até porque o partido espanhol é apenas um dos vários exemplos de organizações políticas “novas”, “de base”, com funcionamento “horizontal”, que surgiram nestes últimos anos, em vários pontos do planeta.

Os organizadores deste encontro  esperam que Héctor Grad, também ele professor de Antropologia, Jesús Jurado e José Copete, ambos candidatos nas últimas eleições europeias pelo Podemos, expliquem a forma como a contestação difusa em Espanha se transformou num partido com êxito eleitoral. E não só.

A apoiar o Podemos estiveram alguns intelectuais como o esloveno Slavoj Žižek, o uruguaio Eduardo Galeano e o norte-americano Noam Chomsky. A número dois da lista, Teresa Rodriguez, esteve há menos de um mês em Lisboa, para participar num comício do Bloco de Esquerda.

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