É tudo improviso

O Governo parece ter sido surpreendido com o anúncio de que a Irlanda dispensara a necessidade de um programa cautelar e o respectivo apoio das altas instâncias europeias para regressar plenamente aos mercados. No briefing do Conselho de Ministros, o ministro da Presidência confessou que Portugal tinha ficado “sem referências” para fazer aquilo que até aí considerava o mal menor: o tal programa cautelar.

Mas, em poucas horas, a narrativa do Governo começou a mudar. A partir de Bruxelas, a ministra das Finanças cedo acenou com a possibilidade de Portugal seguir as pegadas da Irlanda e arriscar o teste dos mercados como ainda não conseguiu até agora.

Já ontem, Passos Coelho e Paulo Portas reproduziram o cenário idílico com o qual não arriscavam pensar desde a demissão de Vítor Gaspar. Mas é tudo improviso. Ainda há poucos dias, Rui Machete deixava cair a taxa de 4,5% como limite dos juros possíveis para dispensar um segundo resgate. E Machete não sonhou. Foi já em Setembro que Passos Coelho colocou o cenário grego de um novo resgate em cima da mesa portuguesa. Sonhar com o programa cautelar tendo uma taxa de 6% e um risco orçamental sinalizado pelo FMI já era audaz o suficiente.  

Mas, em dois dias, tudo mudou. Passos Coelho já acha que basta cumprir o programa certinho e sem chumbos do Tribunal Constitucional para seguir o exemplo da Irlanda.

O problema é que o Governo não tem sabido criar caminhos próprios. Cumprir ordens é a sua preocupação. Imitar percursos a sua obsessão. Más notícias, portanto. À falta de doutrina e de modelos, resta improvisar. Ou deixar que outros improvisem por si.  
 
 

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