“É preciso que haja ainda um resto de decência intelectual”

Como comentador, Miguel Sousa Tavares (M.S.T.) avalia-se assim:

A independência, total e absoluta, é o preço a pagar por aquilo que faço e escrevo. Se assim não fosse, não sei por que razão mereceria a credibilidade dos leitores.

A História não Acaba Assim, Clube do Autor, 2012

Sobre Ricardo Salgado e a actuação do Banco de Portugal no caso BES, M.S.T. diz:

Quanto ao papel desempenhado pelo BdP e o seu governador, entre os depoimentos de um e de outro, parece-me que se começa a ver alguma luz: não tendo tido coragem de apear Ricardo Salgado, quando lhe apeteceu fazê-lo, Carlos Costa dedicou-se a um jogo de empurra permanente, nem o afastando nem lhe dando condições para tentar ainda reverter o desastre que já se anunciava. Deixou-o dar a cara pelo aumento de capital do BES, para a seguir terminar com as tréguas oficiais; (…) aceitou o nome de Amílcar Morais Pires para suceder a Salgado, mas afinal julgou-o ‘não idóneo’, e acabou a exigir à equipa de Vítor Bento um aumento de capital em 48 horas, para logo avançar com a resolução (…) e 10 mil milhões de depósitos a fugirem a toda a velocidade do ‘banco bom’.”

Expresso, 13/12/2014

O grande erro de Ricardo Salgado não foi a gestão do BES — quase unanimemente tida como a melhor e a mais profissional dos bancos portugueses. O grande erro dele, em minha opinião, foi a fatal tentação do ‘grupo’ (…) criado e mantido essencialmente para satisfazer a família (…). Salgado não falhou como banqueiro, falhou no insustentável papel de chefe de dinastia familiar financeira.(…) Tenho uma inquietante dúvida de que os prejuízos declarados pela nova administração do BES no primeiro semestre do ano não estejam empolados, a benefício da narrativa passada e futura. Tenho as maiores dúvidas de que o apuramento final não tenha sido previamente acordado entre a nova administração e o BdP.”

Expresso, 2/8/2014

Já sobre outros banqueiros e a actuação do BdP noutros casos, M.S.T. diz isto:

O 2.º exemplo é o de um personagem já várias vezes aqui arrolado: o outrora autodefinido ‘banqueiro-maravilha’ João Rendeiro, autor da falência do BPP, onde uns milhares de pessoas perderam as suas economias e os contribuintes espatifaram 450 milhões, para que se tentasse, em vão, evitar o descalabro. (…) Rendeiro apresenta-se com duas linhas de defesa, qual delas a mais despudorada: aos clientes, afirma que a culpa é deles, da sua ‘cupidez’ (…) E, aos contribuintes (se é que chega a pensar neles), diz-lhes que a culpa foi da ‘falta de supervisão’ do BdP. Ou seja, e se bem percebi: o ‘banqueiro-maravilha’ apenas se enganou num investimento, mas a culpa é dos que acreditaram no seu apregoado génio e lhe confiaram o seu dinheiro ou de quem não tratou de vigiar de perto a sua, afinal, incompetência. E anda na rua, como se nada fosse.”

Expresso, 15/2/2014

“(…) O PSD e o CDS correram a tentar aproveitar-se das suas tardias ‘revelações’ para (…) chutarem as culpas da associação de malfeitores conhecida como BPN para cima do PS. Podem, e não duvido disso, Vítor Constâncio e o BdP ter cometido graves falhas de supervisão sobre um banco que de há muito se sabia ser, no mínimo, ‘estranho’. Isso é uma coisa, o que se passou lá dentro é outra e bem pior. Se um banco é assaltado e a polícia deixa fugir os assaltantes, podemos criticar a actuação desta, mas não podemos confundir a polícia com os ladrões. É preciso que haja ainda um resto de decência intelectual.”

Expresso, 5/4/2014

Subscrevo: É preciso que haja ainda um resto de decência intelectual.     

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