E o que fazer com os novos partidos?

Há uma disputa pelo voto dos que não se sentem representados por aqueles que estão no Parlamento.

Não é de hoje e está longe de ser um fenómeno exclusivamente português. A crise, e incapacidade de a debelar, a falta de respostas dos partidos tradicionais para resolver os novos e velhos problemas dos seus eleitores, um fosso cada vez maior que se vai cavando entre políticos e cidadãos. Pelo meio, aqui e ali, promessas não cumpridas e fenómenos de corrupção ou promiscuidade entre negócios e política. O surgimento de movimentos e manifestações espontâneas e uma sociedade civil que olha para o seu Parlamento e não se reconhece e não se vê representada.

Terreno fértil que por esta Europa quase varreu do mapa partidos tradicionais com implantação nacional (como o Pasok na Grécia); levou a que partidos de direita em França e Inglaterra fossem ultrapassados (pela direita) por movimentos radicais como a Frente Nacional e o UKIP; e levou ao aparecimento de novos partidos que nasceram da noite e para o dia para ocupar lugares de relevo na política (o Podemos em Espanha, o Syriza ou Beppe Grillo).

Por cá, já se percebeu que o boletim de voto nas próximas legislativas estará mais preenchido. Além de Marinho e Pinto e do seu Democrático Republicano, vão surgir o Livre, provavelmente o Nós e ainda está por saber por onde concorrerá Ana Drago ou Daniel Oliveira. São partidos que procuram ocupar espaços mais ou menos vazios na política, os mesmos que num passado recente foram disputados (e muitas vezes ganhos) pelos independentes nas autárquicas, ou, por exemplo, por Fernando Nobre nas presidenciais.

Muitos adoptam um discurso antipolíticos e anti-sistema. E outros optam pela via mais fácil da demagogia. É o caso de Marinho e Pinto, que ainda esta semana tropeçou no seu próprio populismo. Ao mesmo tempo que critica o dinheiro que recebem os eurodeputados, vem dizer que um salário de deputado de 4800 euros não dá para viver bem em Lisboa.

O surgimento de novos partidos não deve ser visto como uma ameaça à política ou à governabilidade, por dispersar os votos. Muito pelo contrário. Ajuda a institucionalizar os protestos, a fazer ouvir vozes que não se sentem representadas na Assembleia e obriga os maiores partidos, aqueles que normalmente governam, a sair da redoma das direcções partidárias e das tricas políticas.

Nesta tentativa de ocupar um espaço político aparentemente órfão de representação, aos grandes partidos cabe o desafio de chamar mais independentes ou abrir a máquina partidária à participação de todos. As primárias no PS são um bom exemplo. Aos novos e pequenos partidos exige-se que não se limitem a agarrar num voto de protesto e a transformá-lo num discurso de protesto. Também serão úteis, se não tiverem medo de participar na governação, fazer alianças e firmar compromissos. Uma cultura que em Portugal ainda tem caminho a fazer.
 

   





Sugerir correcção
Ler 1 comentários