Durão nega encontros com alemães da Ferrostaal, mas um deles disse o contrário

Ex-primeiro-ministro diz não ter tido qualquer contacto com representantes do consórcio. Admite um almoço com “numerosos” empresários alemães. Um destes disse no Parlamento ter estado com o social-democrata.

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Durão Barroso espera que haja "capacidade administrativa" em Portugal para aplicar programa europeu de estímulo ao emprego jovem GEORGES GOBET/AFP

As respostas de Durão Barroso à comissão de inquérito sobre programas de aquisição de equipamentos militares adensam ainda mais as dúvidas em relação ao papel do então primeiro-ministro e actual presidente da Comissão Europeia no processo de aquisição de submarinos por Portugal.

“Nunca tive qualquer reunião com representantes dos consórcios concorrentes. E não tenho conhecimento de que qualquer membro do meu gabinete o possa ter feito”, escreveu o social-democrata no seu depoimento por escrito aos deputados. Ao longo das 11 páginas de respostas, Durão Barroso reiterou, por mais de uma vez, o seu afastamento em relação à aquisição de submarinos para a Marinha Portuguesa: “Nunca tive quaisquer encontros relativos à aquisição de submarinos.”

O problema é que as afirmações do ex-presidente do PSD entram em choque com um depoimento já realizado em São Bento. A 5 de Setembro, Hans-Peter Muehlenbeck – ex-dirigente da Ferrostaal (empresa alemã que integrava o consórcio GSC que, em 2004, vendeu dois submarinos ao Estado português) e que foi condenado a dois anos de prisão, com pena suspensa, por suborno de responsáveis portugueses e gregos afirmou no Parlamento exactamente o contrário.

O cidadão alemão deu conta de que o ex-cônsul honorário Jürgen Adolf havia sido contratado pela Ferrostaal, a troco de 1,6 milhões de euros, para ajudar a vender os submarinos em Portugal. Muehlenbeck confirmou ainda que este tinha promovido vários encontros com responsáveis políticos portugueses. “Conseguiu uma reunião ao almoço em honra de Durão Barroso com o senhor Haun [Johann-Friedrich Haun, seu superior hierárquico na Ferrostaal, também condenado na Alemanha, no mesmo processo].” Nessa ocasião, continuou Muehlenbeck, a mensagem era clara: “Queremos vender estes submarinos, por favor dê-nos o seu apoio.”

O depoimento de Durão já não desmente o seu relacionamento com o ex-cônsul de Portugal. Durão Barroso definiu-o como “meramente circunstancial”. E frisou não ter sido da sua responsabilidade a sua nomeação. “Foi nomeado pelo secretário de Estado das Comunidades, Sousa Macedo, no seguimento de um processo de candidatura que se iniciou antes de eu próprio ser ministro dos Negócios Estrangeiros.”

O ex-primeiro-ministro admite, contudo, ter estado presente num almoço com empresários germânicos. “Quando em 5 de Julho me desloquei à Baviera, onde tive encontro oficiais, nomeadamente com o então chefe de governo da Baviera, Edmund Stoiber, o cônsul honorário promoveu um almoço com um grupo de empresários alemães. Ignoro o nome daqueles que, numerosos, me foram apresentados no início ou final do dito almoço.”

A negação feita em relação aos membros do seu gabinete entra também em contradição com o depoimento de Muehlenbeck. O empresário relatou aos deputados um encontro, organizado por Adolf: “Uma reunião no escritório de Mário David [ex-eurodeputado do PSD e ex-assessor de Barroso, quando este era primeiro-ministro] para apresentar a este senhor uma solução financeira para o Estado financiar a aquisição dos submarinos.”

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