Durão Barroso anuncia amanhã se abandona Governo

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O primeiro-ministro comprometeu-se a anunciar amanhã a sua decisão Inácio Rosa/Lusa

O primeiro-ministro português ainda não disse que vai aceitar o convite para o cargo de presidente da Comissão Europeia, mas deu hoje sinais positivos em relação à sua ida para Bruxelas. Durão Barroso falou pela primeira vez sobre o seu futuro, em Istambul, e anunciou que regressará ainda hoje a Lisboa para se reunir com o Presidente Jorge Sampaio e com o Conselho de Ministros e só depois anunciará a sua decisão.

Durão Barroso, que falou aos jornalistas numa conferência de imprensa no âmbito da cimeira da NATO na Turquia, pronunciou-se assim pela primeira vez sobre o convite de Bertie Ahern, primeiro-ministro irlandês, ontem oficializado, para que seja o substituto de Romano Prodi.

O primeiro-ministro mostrou-se inclinado a aceitar o convite, ao lembrar que o presidente em exercício da UE afirmou que o seu nome "mereceu o apoio generalizado" na UE e assumiu: "Isso encoraja-me a aceitar".

Na sua declaração, antes de responder às perguntas dos jornalistas, Durão Barroso frisou que este convite "é também uma homenagem a Portugal" pelo "prestígio" que lhe é reconhecido, bem como pela "capacidade de gerar consenso no contexto europeu".

Admitindo que é "uma decisão difícil", o primeiro-ministro explicou não poder anunciar a sua decisão sem avaliar as condições a nível europeu e a nível interno, mas sublinhou que "Portugal não é hoje dissociável do contexto europeu".

Durão Barroso informou que regressa hoje a Lisboa, para amanhã se voltar a reunir com o Presidente da República, a quem deve anunciar a sua decisão, e após uma reunião extraordinária do Conselho de Ministros.

História de uma crise política portuguesa

A especulação em torno do destino de Durão Barroso começou a tomar forma na semana passada. Terça-feira, o PÚBLICO noticiou que, ao invés do nome de António Vitorino, era o do português José Manuel Durão Barroso o mais falado para suceder a Romano Prodi.

Sexta-feira, os acontecimentos precipitaram-se, com o primeiro-ministro a reunir-se com o Presidente Jorge Sampaio para lhe dar a conhecer as pressões a que estaria a ser sujeito para aceitar o eventual convite e os seus planos. O Presidente ouviu também o líder do maior partido da oposição, o socialista Ferro Rodrigues, que juntamente com os restantes países da oposição (de esquerda) anunciou o desejo de convocar eleições antecipadas se se concretizar a saída do actual líder do Executivo.

O primeiro-ministro mantinha-se em silêncio desde então, não tendo prestado quaisquer declarações sobre os rumores da sua saída do Governo de coligação com o CDS-PP. Durão Barroso falou hoje, após o convite oficial da União Europeia e em vésperas da cimeira extraordinária de chefes de Estado e de Governo da União Europeia prevista para amanhã à noite, em Bruxelas.

Ontem, num comunicado publicado na página da presidência irlandesa na Internet, Ahern explica que nos últimos dias manteve "intensas consultas com os colegas" da União Europeia e congratulou-se "por confirmar que existiu um apoio esmagador à candidatura do primeiro-ministro português, Durão Barroso, para presidente da Comissão" Europeia.

"Os membros do Conselho [Europeu] apelaram a que Durão se candidate e esperam que ele responda positivamente", afirmou Ahern, acrescentando ter falado sábado à noite com Durão Barroso.

Assim, na cimeira de amanhã, que decorre a partir das 18h00 de Bruxelas (17h00 em Lisboa), será nomeado o novo presidente da Comissão Europeia e espera-se que seja garantida a continuidade do espanhol Javier Solana como alto representante da União Europeia para as Relações Externas.

Depois de nomeado pelos líderes europeus, o nome de Durão Barroso terá de ser aprovado pelo Parlamento Europeu, o que acontecerá na sessão plenária que se realiza entre os dias 20 e 22 do próximo mês em Estrasburgo (França). Romano Prodi continua em funções até 31 de Outubro.

Entretanto, o nome mais falado para a sua substituição é o do actual presidente da Câmara de Lisboa e vice-presidente do PSD, Pedro Santana Lopes, que até há poucos meses era apresentado como presidenciável e potencial candidato às eleições a Belém de 2006.

Santana Lopes, ao que tudo indica, tem o apoio da maioria das distritais do PSD, mas recolhe a oposição de nomes do Governo. A ministra Manuela Ferreira Leite contesta a sucessão sem um congresso e lembra hoje em declarações ao PÚBLICO que Santana Lopes é vice-presidente do partido, mas que das três vezes que se candidatou à liderança perdeu sempre.

Santana Lopes não é um nome consensual e Jorge Sampaio pensa convidar para uma audiência em Belém o antigo primeiro-ministro Cavaco Silva para saber o que pensa o social-democrata sobre os cenários alegadamente traçados. É que parte da oposição ao nome de Pedro Santana Lopes vem dos cavaquistas, que acham que o Governo ainda não fez tudo o que era preciso para endireitar as finanças e a economia e que o presidente da Câmara de Lisboa vai deitar a perder o pouco que se fez.

O PÚBLICO indicava ontem que também Marcelo Rebelo de Sousa se opõe à ascensão de Santana Lopes, mas terá prometido a Durão Barroso que não se manifestará contra o autarca de Lisboa. Na direcção do PSD, há quem anteveja um cenário catastrófico após a substituição, com mais instabilidade na coligação, um mau resultado nas autárquicas e, posteriormente, nas legislativas, aliado à perda de confiança de Portugal junto dos agentes económicos, numa altura em que o país estava a tentar contrariar a retracção económica.

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