"Durante muito tempo, varreu-se o erro para debaixo do tapete”, diz Passos Coelho

Primeiro-ministro não revela se haverá ou não mais cortes no dia em que o Documento de Estratégia Orçamental esteve em cima da mesa do Conselho de Ministros. Passos Coelho avisa que as “continhas têm de ser bem feitas”.

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Passos: “Não vale a pena criarmos ficções” Adriano Miranda

O primeiro-ministro não fala em corte de pensões ou na redução de salários na função pública no dia em que o Documento de Estratégia Orçamental entrou na agenda do Conselho de Ministros — documento que tem de estar concluído no final de Abril. Sobre esse encontro nem uma palavra, mas num discurso a 300 quilómetros de Lisboa deixou várias mensagens nas entrelinhas.

Esta segunda-feira, no Europarque, em Santa Maria da Feira, Passos Coelho referiu que durante muito tempo o país varreu os erros para debaixo do tapete e que é preciso aprender com o que corre mal.

“Em Portugal, durante muitos anos, estigmatizou-se, em excesso, o erro. Varreu-se o erro para debaixo do tapete e, depois, não demos a devida atenção a quem aprendeu com os erros”, referiu. E avisou: “Uma nação, uma economia, que precisa de atrair financiamentos não pode deixar de honrar as suas responsabilidades”.

Na apresentação do Projecto Business Network da Câmara da Feira, que através de uma plataforma online pretende fomentar o negócio activo e colaborativo com vista à internacionalização de empresas, com uma sala repleta de empresários, Passos Coelho deixou claro que os tempos que se avizinham não são de facilidades e não colocou paninhos quentes.

“Claro que aqueles — que são a grande maioria dos portugueses — que passaram estes últimos três anos com muitas dificuldades e com muitos sacrifícios prefeririam ouvir agora uma coisa mais entusiasmante, que tudo correrá sobre rodas. Mas as pessoas sabem, aprenderam ao longo destes anos, que não vale a pena criarmos ficções”. O primeiro-ministro falou em mais exigências, mas não com o mesmo grau dos últimos anos. “Nestes três anos, estivemos a corrigir situações muito drásticas e, portanto, tivemos de lançar mão de medidas emergentes”.

Os dados provisórios divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) mereceram a sua atenção e fez questão de inclui-los no seu discurso. “Tivemos a possibilidade de, em 2013, ter um excedente sobre o exterior, no que respeita à nossa balança corrente e de capital, de quase 2% do PIB. O que significa que a economia, no seu todo, em vez de necessidades de financiamento do exterior, tem hoje disponibilidade de financiamento sobre o exterior”. O que, na opinião do primeiro-ministro, “representa uma mudança extraordinária que precisamos de consolidar para o futuro para poder mostrar que o caminho que estamos a seguir é realmente um caminho radicalmente diferente, essencialmente diferente, estruturalmente diferente”.  

Passos Coelho referiu que o futuro exigirá muito de todos os portugueses e alerta que não se pode desperdiçar recursos humanos ou de capital de financeiro. “Todas as continhas devem ser bem feitas”, disse.

O primeiro-ministro, que deixou bem claro que os governos não devem substituir-se aos investidores e aos agentes económicos, diz que não vale a pena continuar a discutir se Portugal deve ter um modelo de desenvolvimento baseado em salários baixos.

“Perderíamos sempre porque por mais que baixássemos os salários, nunca poderíamos competir com economias que estão a crescer a um ritmo extraordinário e que têm diferenciais no custo da mão-de-obra muito maiores do que nós algum dia conseguiríamos”.

Acrescentar inovação, na cadeia de produção, é um dos caminhos que aponta, bem como apostar no valor associado à diáspora portuguesa e nos modelos de cooperação. “Precisamos de competição, mas uma coisa é competição, outra coisa é termos receio de que juntos possamos não ser maiores. E eu acho que juntos podemos ser maiores”.

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