Distrital de Braga denuncia “clima de intimidação” que se viveu no Congresso do CDS

Ex-deputado não poupa Assunção Cristas “por usar os mesmos métodos” de Paulo Portas. O mal-estar no partido já levou a duas demissões nas estruturas de Aveiro.

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Líder da distrital de Braga critica Assunção Cristas e Paulo Portas Nelson Garrido

Há um clima de grande crispação no CDS, sobretudo a Norte. Três dias depois do congresso, que decorreu no último fim-de-semana em Gondomar, Altino Bessa, presidente da distrital de Braga, não poupa a nova líder “por usar os mesmos métodos que o anterior presidente” e acusa a direcção do CDS de “ter feito terrorismo” contra as pessoas que decidiram apresentar uma lista ao Conselho Nacional, alternativa à de Assunção Cristas.

Próximo de Nuno Melo, Altino Bessa mostra-se indignado com o “clima de intimidação junto das pessoas que subscreveram a lista encabeçada por Filipe Lobo d'Ávila ao Conselho Nacional”, e que contou com o apoio de figuras do partido, de algumas concelhias e de várias distritais.

 “As pressões que foram feitas no sábado fizeram-me sentir como se eu fosse um terrorista no meu próprio partido, quando o que nós pretendíamos era apresentar uma lista”, declara, criticando “os métodos” que o partido continua a praticar, “idênticos aos que eram usados no passado”.

“A presidente do partido não devia ter permitido que houvesse toda aquela tensão. O que aconteceu é uma coisa sem sentido”, insurge-se, frisando que “Assunção Cristas deveria estar acima deste tipo métodos, até porque nenhum de nós estava contra a sua escolha para líder do partido”. “Assunção Cristas não pode ficar refém de tiques que vêm do passado. Isso é um erro”, insiste Altino Bessa.

Ao PÚBLICO, o ex-deputado democrata-cristão discorda que a direcção do partido tenha escolhido Manuel Gonçalves, o ex-vereador da Câmara do Porto, para secretário-geral adjunto do Norte sem o ter consultado previamente. Poucos dias depois de ter sido empossado vereador do Ambiente da Câmara do Porto (em Janeiro de 2012), Manuel Gonçalves pediu a suspensão do cargo depois de, no mesmo dia, ter sido noticiado que foi declarado falido pelo Tribunal de Comércio de Gaia em Fevereiro de 2008. Este facto impedia-o de candidatar-se a cargos autárquicos, uma vez que a lei estabelece que são "inelegíveis para os órgãos das autarquias locais" os "falidos ou insolventes, salvo se reabilitados". No entanto, Manuel Gonçalves ocupou o 13.º lugar na lista da coligação PSD/CDS-PP candidata às eleições autárquicas de 2009.”

O ex-deputado pega neste exemplo para apontar o dedo a Assunção Cristas, declarando que o que ela “prometeu foi uma linha de maior diálogo com as distritais”. “O que deveria ter feito era promover uma reunião com as distritais afectas ao Norte e fazer uma avaliação para a escolha de secretário-geral-adjunto o Norte”, defende Altino Bessa, lamentando que a sucessora de Paulo Portas tenha “desperdiçado uma oportunidade como esta para mostrar a abertura do partido para com as estruturas”.

Contra um “partido centralizado no largo do Caldas”, Altino Bessa desafia Assunção Cristas a “acabar com as estruturas distritais”. O dirigente distrital critica severamente Paulo Portas pela forma como conduziu, em 2015, a escolha dos deputados pelo círculo eleitoral de Aveiro. E aproveita para censurar Portas por ter retirado Raul Almeida da lista para meter António Carlos Monteiro, o ex-secretário-geral do CDS, em terceiro lugar.

Demissões em Águeda e Ovar
A fractura que se abriu no Congresso de Gondomar por causa do grupo liderado por Filipe Lobo d'Ávila, que colocou em causa a unanimidade defendida por Cristas, já provocou duas demissões. O primeiro a bater com a porta foi Fernando Camelo que, domingo, se demitiu da liderança da comissão política concelhia de Ovar. Na segunda-feira foi a vez do presidente da comissão política concelhia de Águeda, Miguel Vidal, se demitir da comissão política distrital de Aveiro, onde era vogal, em sinal de protesto contra a “forma como a distrital escolhe as pessoas para os órgãos nacionais do partido”.

“Demiti-me para proteger a coesão interna da concelhia de Águeda”, declarou Vidal ao PÚBLICO, afirmando que “a situação já se vinha a arrastar há muito tempo”. “Não posso admitir que a distrital de Aveiro convide pessoas da concelhia para os órgãos nacionais sem me consultar. É uma questão de lealdade institucional”, declara.

 

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