Distritais socialistas divididas quanto à estratégia de Costa

Partido à espera que o secretário-geral preste contas dos contactos que tem vindo a fazer nos últimos dias. Negociações com o Bloco e o PCP alvo de críticas internas.

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António Costa Daniel Rocha

O PS está inquieto quanto ao desfecho da maratona negocial que António Costa está a fazer quer à esquerda quer à direita e há líderes federativos que o acusam de estar a fazer uma “jogada de alto risco para o partido” dada a complexidade da situação. Mas Costa não está sozinho e tem distritais que saem em sua defesa.

Das cinco maiores federações, apenas Braga se pronuncia. Ninguém diz o que pensam as distritais de Aveiro, Porto, Lisboa e Setúbal. A distrital do PS-Porto, liderada por José Luís Carneiro, apoiante do ex-líder António José Seguro esteve reunida quinta-feira e na sala ouviram-se críticas à actuação de Costa e aplausos à sua estratégia, porque as negociações à esquerda, “podem permitir ao partido no caso de formar governo alcançar uma plataforma parlamentar para impor limites às políticas de austeridade do governo de direita”. Na reunião - primeira da comissão política da distrital do PS-Porto depois das legislativas -, ficou patente a clivagem entre aqueles que apoiam António Costa e os que nunca estiveram com ele.

Aparentemente, o que parece causar grande incomodidade ao partido é a possibilidade de se passar para a opinião pública a ideia de o PS poder vir a formar governo sem ganhar eleições. “Esta colagem à esquerda é muito preocupante e por isso é qualquer entendimento, quer com o BE quer com o PC, tem que ficar salvaguardado num acordo escrito, para não haver o risco de a qualquer momento tirarem o apoio ao PS em matérias consideradas sensíveis como a Europa, Tratado Orçamental, o Tratado de Lisboa ou a Aliança Atlântica”, declarou ao PÚBLICO um dirigente que esteve na reunião. Referiu ainda que “as pessoas estão muito receosas e consideram que o desfecho de todo este processo negocial não é vantajoso para o PS”.

Já António Gameiro, que lidera a distrital e Santarém, considera que ainda é cedo para ter uma posição fechada porque Costa ainda não encerrou as negociações. A este socialista, próximo do ex-líder, não o repugna um governo do PS com apoio parlamentar do PC e do Bloco. Mas adverte que as condições a negociar com os dois partidos de esquerda têm de ficar salvaguardadas num documento escrito com as bases programáticas do PS.

O presidente da distrital de Viana do Castelo discorda de Costa e aponta caminhos. “Aquilo que deveria ter sido feito era esperar que a coligação apresentasse o seu programa de governo e em função disso ver se tinha condições para o deixar passar”, advoga José Manuel Carpinteira, afirmando que neste processo “faltou bom senso”. “A posição de dialogar à esquerda e à direita é uma estratégia de alto risco para o próprio secretário-geral, mas sobretudo para o partido”, diz.

Falando a título pessoal, Carpinteira aguarda pelas respostas do líder ao partido para poder avaliar “com serenidade” a sua posição. “Admitimos que António Costa quer o melhor para o país, mas tenho dúvidas que essa estratégia seja a melhor para o PS”, diz, revelando que o PS de Viana vai reunir-se na próxima semana para avaliar a situação”.

Em total sintonia com Costa está Luís Moreira Testa. O presidente da distrital de Portalegre revê-se “totalmente” na estratégia do secretário-geral e explica que o “PS não se limita a ser uma força de protesto ou de oposição”. E puxa pelo “pensamento reformista e posicionamento progressista do partido” para dizer que” neste momento de refrega eleitoral é responsabilidade do PS dar um contributo acrescido”. “O PS como partido fundamental da democracia portuguesa assumiu todas as responsabilidades que lhe cabiam e lhe competiam que foi ouvir os partidos quer da esquerda, quer da direita para contribuir para uma solução de governo”, defende Luis Testa, frisando que “para o PS não existem preconceitos relativamente a qualquer força política”.

O dirigente reconhece que o “cenário é incomum em Portugal, mas - nota – que a democracia tem solução para todas as situações”.

Na mesma linha manifesta-se Joaquim Barreto, que pede serenidade ao partido. O presidente da poderosa distrital de Braga chama a atenção para a “legitimidade” do secretário-geral para desenvolver as diligências e os contactos com os partidos à esquerda e à direita” e frisa que “é preciso confiar no seu trabalho e depois de encerradas as negociações, o partido tem de ouvir o que o Costa tem a dizer e depois decidir”.

A acompanhar com alguma preocupação o actual momento político está pedro Coimbra, o deputado, que preside à distrital coimbrã. Este dirigente aguarda que a Comissão Política Nacional do PS seja convocada para partilhar com os seus pares a sua posição. Para ontem à noite estava marcada uma reunião da distrital socialista.

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