Direcção nacional do PS inclinada para recusar lista de deputados por Coimbra

Ministério Público quer constituir o deputado Rui Duarte, número três da lista, como arguido pelo “crime continuado de falsificação de documentos”.

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Escolhas distritais podem esbarrar na direcção nacional do PS Miguel Madeira

A lista de deputados do PS pelo círculo eleitoral de Coimbra deverá ser recusada pela Comissão Política Nacional (CPN), que reúne terça-feira à noite para aprovação final dos candidatos às próximas eleições legislativas. Mas é provável que a medida se estenda às distritais de Santarém e de Viana do Castelo, pelo facto de as listas “não cumprirem” os critérios definidos e aprovados pela CPN.

“O secretário-geral do PS, António Costa, não aceita que alguma federação lhe estrague o esforço bem sucedido de renovação e de credibilidade inerente à escolha dos cabeças de lista para as próximas eleições legislativas”, afirma um membro da direcção socialista, citado pela Lusa. “A lista de Coimbra é inaceitável e, manifestamente, não cumpre os critérios aprovados pela Comissão Política Nacional ”, declara ao PÚBLICO fonte da direcção, referindo que o número três da lista por Coimbra, Rui Duarte, pode vir a ser julgado pelo “crime continuado de falsificação de documento”.

No dia 1 de Julho, a Comarca de Coimbra enviou à presidente da Assembleia da República um pedido de levantamento da imunidade parlamentar do deputado socialista Rui Duarte, que o Ministério Público quer constituir arguido e ouvi-lo nessa qualidade pelo "crime continuado de falsificação de documentos", relacionado com a inscrição fraudulenta de militantes no partido.

O Departamento de Investigação e Acção Penal de Coimbra pode vir a imputar a Rui Duarte a autoria do crime por que está indiciado.

Sucede que na última reunião da CPN do PS, o secretário-geral do partido disse que seria provado um código de ética, documento que terá de ser subscrito por todos os candidatos a deputados, no qual assumem não ter questões em aberto nem em relação ao sistema fiscal, nem com a Segurança Social ou com a justiça.

 "Os portugueses exigem garantias acrescidas de credibilidade por parte dos agentes políticos", disse o líder socialista ao ser questionado pelos jornalistas sobre as razões deste documento, que está a ser ultimado e que conta com os contributos de Jorge Lacão, Pedro Delgado Alves, Vitalino Canas e José Magalhães.

Encabeçada pela professora universitária Helena Freitas [uma escolha pessoal do secretário-geral], a lista foi aprovada na sexta-feira à noite e a federação de Coimbra indicou como candidatos a deputados, em lugares elegíveis, o presidente da estrutura, Pedro Coimbra, o deputado Rui Duarte, a gestora Cristina de Jesus, e o ex-presidente da Câmara de Soure João Gouveia (antigo militante do PSD).

Segundo fonte da direcção nacional do partido, esta lista tem uma particularidade, apresentando nos lugares elegíveis três candidatos que têm relações familiares: Pedro Coimbra, Cristina de Jesus e João Gouveia, sogro do líder federativo. O PÚBLICO tentou confirmar  esta informação junto de Pedro Coimbra, também ele deputado, mas o número dois da lista mostrou-se sempre indisponível para qualquer contacto, não devolvendo as chamadas telefónicas nem respondendo às mensagens via telemóvel.

As listas das três federações estão sob análise da direcção nacional e, ao que o PÚBLICO apurou, o que se discute na véspera da aprovação final do processo de escolha de deputados é se se propõem alterações de fundo ou se fazem mexidas cirúrgicas, mas a convicção que existe junto de dirigentes nacionais é que as listas vão ser alteradas se não houver, como disse um membro da direcção nacional, um “lampejo de bom senso” por parte das distritais de Santarém e de Viana do Castelo”. A mesma fonte condenava a “lógica aparelhística doentia de algumas distritais que convivem muito mal com os sinais de abertura que o secretário-geral quer dar”.

Viseu não escapou à confusão, mas os critérios definidos pelo partido foram respeitados e a lista reflecte um equilíbrio entre seguristas e costistas . O presidente da distrital, António Borges, apoiante de António José Seguro nas eleições primárias de Setembro, afastou o deputado Acácio Pinto (que esteve com o actual líder na disputa interna), substituindo-o por José Rui Cruz, que já foi deputado. José Junqueiro, cabeça de lista pelo distrito em anteriores eleições, recusou integrar a candidatura depois de Costa ter escolhido Manuela Leitão Marques para número um.

Porto e Lisboa reúnem-se esta segunda-feira para fechar as listas. Ao fim da tarde deste domingo, o líder do PS-Porto, José Luís Carneiro, Manuel Pizarro, Renato Sampaio e Mário de Almeida reuniram-se em Vila do Conde para preparar a reunião da distrital de segunda-feira à noite, que se prevê bastante difícil para acolher todas as sensibilidades.

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