Direcção do PS não convoca congresso extraordinário

Actual liderança vai forçar António Costa a fazer as despesas da disputa interna.

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António Galamba acusou o Governo de incapacidade para gerar consensos Daniel Rocha

O secretário nacional António Galamba afirmou esta terça-feira ao PÚBLICO que a actual liderança não vai avançar para a convocação de um congresso extraordinário.

“Quem quer que se realize um congresso extraordinário vai ter de cumprir as regras que estão nos Estatutos”, disse o dirigente próximo de António José Seguro.

De acordo com os regulamentos internos, um congresso extraordinário pode avançar quando a comissão nacional vota essa solução favoravelmente por uma maioria de 2/3, quando um conjunto de federações – que representem 50% do universo partidário – assim o subscreva, ou ainda por iniciativa do próprio secretário-geral.

A reacção de António Galamba – responsável pela organização interna – indicia que Seguro não estará assim disponível para facilitar a vida a António Costa. “Se nós andámos a criticar o Governo por violar a Constituição, não podemos depois dizer que a nossa Constituição – os Estatutos do partido – não é para cumprir”, argumenta Galamba.

Os líderes das estruturas de Braga, Porto, Oeste e Viana do Castelo vieram a público esta terça-feira criticar o anúncio de António Costa. José Luís Carneiro, que lidera a distrital do Porto, reconheceu a sua “estupefação” com o anúncio do autarca de Lisboa. Uma disponibilidade “sem sentido” acrescentou. “O presidente da federação distrital do PS do Porto está, como esteve desde a primeira hora, com António José Seguro, na tentativa de criar condições para derrubar o Governo de direita e para poder servir os portugueses”, afirmou José Luís Carneiro.

Também Fernando Moniz, presidente da distrital do PS-Braga, reitera o seu apoio a António José Seguro. E alerta que a disputa interna “corre sérios riscos de transformar o PS num palco de guerrilha interna, o que faz com que parta enfraquecido para o combate das legislativas” de 2015. “Quando já estamos quase a avançar para um período pré-eleitoral das legislativas, o PS gasta as suas energias no confronto interno, correndo o risco de chegar sem força às legislativas. Esse é o grande risco que se corre”, afirma Moniz. E mostra-se admirado com os argumentos que estão por detrás do provável aparecimento de uma candidatura de Costa, porque – salienta – o “PS teve uma vitória clara”.

O presidente da federação do PS de Viana do Castelo considerou, por seu turno, que o anúncio "não é oportuno". "Neste momento, a um ano de eleições legislativas, não me parece oportuno que surja uma mudança na liderança do partido. A disponibilidade do António Costa pode ter toda a boa intenção, mas neste momento não me parece oportuna", afirmou José Manuel Carpinteira.

Por sua vez, o presidente da Federação Regional do Oeste classificou mesmo de "incongruente" o avanço de Costa. "Não é altura para discutir a liderança, quando estamos a um ano do congresso", afirmou Rui Prudêncio, acrescentando que o anúncio "é incongruente por aparecer numa altura em que o PS ganhou a maioria das câmaras nas últimas eleições autárquicas e ganhou as eleições europeias de domingo".

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As críticas a António Costa surgem depois de a direcção do PS ter assumido a intenção de aceitar o desafio. Em reação ao autarca de Lisboa, o secretário nacional Álvaro Beleza disse que o “partido cumpriu o seu dever e que “vai trabalhar para fazer do PS o líder da esquerda e criar um governo de esquerda, um governo com as várias esquerdas na defesa do Estado social da democracia”.

Segundo Álvaro Beleza, outra das “convicções da actual direcção sobre o futuro passa pelo código de ética na política, pela reforma do sistema eleitoral com a introdução de círculos uninominais e trabalhar para fazer do PS o líder da esquerda”.

O dirigente nacional do PS aludiu à “esquizofrenia” da política: “Aqui parece que contam mais as análises do que os resultados; na medicina contam mais os resultados do que as análises.”

Ao PÚBLICO Álvaro Beleza disse ter “muita honra em estar nesta direcção” e revelou: “[Continuarei] ao lado de António José Seguro no combate tranquilo que vamos fazer.” “Cumprimos o nosso dever e vamos lutar pelas nossas convicções sobre o futuro”, afirmou.

"Risco de transformar PS num palco de guerrilha interna"
A resposta já está alinhavada. Moniz, aliás, usou uma argumentação semelhante à de Beleza. “As análises que se têm feito sobre os resultados das eleições europeias distorcem a realidade. Acho normal que qualquer pessoa queira candidatar-se à liderança do PS, o que não acho normal é que essa candidatura seja ancorada em argumentos que não são claros, porque o PS ganhou as eleições não as perdeu.”

“Sou um homem das matemáticas e não consigo perceber as contas que se fazem sobre os resultados das eleições europeias”, acrescenta o líder da distrital do PS-Braga, manifestando estranheza que “no final de uma vitória do PS se esteja a questionar a vitória, quando o seu principal adversário teve uma derrota estrondosa”.

“A candidatura que surge desta realidade corre sérios riscos de transformar o PS num palco de guerrilha interna, que, não sendo desejável, pode vir a causar sérios danos ao partido, porque não é sustentada numa análise objectiva dos factos políticos”, adverte o dirigente socialista. E conclui que, se "António Costa tivesse avançado há um ano, como se esperava, os riscos para o partido não seriam tão graves como podem ser hoje, provocando sequelas e divisões internas com consequências graves”.

Moniz destaca ainda que "pela primeira vez na história do partido questiona-se um líder sem que tenha sido sufragado em eleições legislativas”. E acrescenta que Seguro já somou duas vitórias desde que chegou à liderança do PS: as autárquicas, em 2013, e as europeias agora.

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