BE reconhece peso eleitoral da saída de Drago, mas rejeita ser “sucursal do PS”

Ana Drago e Daniel Oliveira são “bem-vindos” no Livre, mas nos corredores bloquistas cresce a convicção que farão um novo partido para se coligar nas legislativas de 2015. E abrir a porta ao PS.

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Nuno Ferreira Santos

O BE não vai alterar a estratégia política. Nem agora nem depois da convenção marcada para Novembro. Foi pelo menos esta a garantia deixada por vários dirigentes de primeira linha ouvidos esta segunda-feira pelo PÚBLICO.

Refém do forte abalo causado pela saída de Ana Drago do partido, depois de anunciada a desvinculação da corrente Manifesto, no sábado, o núcleo duro da direcção do BE evitou esta segunda-feira traçar cenários. Mas com uma garantia: não se esperem reviravoltas mediáticas dentro do partido.

“Não vamos fazer nada”, disse um dirigente de topo, que pediu para não ser identificado.

Ao contrário do que sucedeu em Janeiro quando Ana Drago anunciou a demissão da comissão política do partido, desta vez a direcção do BE não desvalorizou a saída da militante. “A saída de Ana Drago tem um grande peso político e eleitoral, mas não altera o caminho do BE”, garantiu esse mesmo dirigente. Outro dirigente, que também pediu para não ser identificado, disse que “tem um mau efeito político e aumenta muito a pressão sobre o partido”.

Neste momento, a palavra de ordem é preparar. Preparar a moção com que a direcção pretende chegar à convenção de Novembro. Uma moção única, de preferência. Ou, pelo menos, o mais abrangente possível para que seja aprovada com “larga maioria”, embora o caminho seja feito de pedras.

Segundo o PÚBLICO apurou, neste momento as correntes Socialismo e UDP, com mais alguns militantes da plataforma Anti Capitalismo, já concertaram posições para uma redacção conjunta. Mas de fora estão, para já, os militantes afectos à corrente recentemente criada por Luís Fazenda, a Esquerda Alternativa, e os que habitualmente apresentam a moção B nas convenções. E dentro do partido é crescente a convicção que será muito difícil reunir todas estas tendências num texto comum. Porém, há quem acredite que a saída de Ana Drago e a desvinculação da Manifesto forçarão as tendências mais fechadas a aderir a uma moção única. Neste caso, a tese é a de que os militantes do BE veriam com muito maus olhos acrescentar sectarismo interno ao momento actual.

Entre os mais notáveis há ainda outra convicção crescente. A de que haverá um novo partido que se coligará com o Livre até ao final deste ano para as legislativas de 2015. “Serão dois partidos que resultam de dois sectores da Manifesto, o que é estranho. Estão dispostos a ser uma bengala para o PS e acham que em termos estratégicos causa maior impacto uma coligação, porque dá o sinal de uma convergência à esquerda que nunca se faz". Porém, esse não é o caminho do BE: “Vamos continuar a desafiar o PS e as outras forças políticas para uma política de esquerda. O nosso caminho não é integrar o PS ou ser uma sucursal do PS.”

“Bem-vindos” ao Livre
O PÚBLICO tentou contactar Rui Tavares, agora dirigente do Livre e ex-eurodeputado pelo BE. Optando, para já, por não comentar estas movimentações, Tavares remeteu para o artigo publicado neste jornal sob o título A chave. Nessa dissertação sobre os dramas da esquerda, escreve que muitos, incluindo ele, tinham esperança no Bloco. Mas "os sectores mais sociais-democratas e abertos ao diálogo foram sendo sucessivamente reprimidos, até à saída final".

Para já, sobre a aproximação de figuras como Ana Drago ou Daniel Oliveira, o dirigente do Livre Ricardo Alves diz que seriam “bem-vindos”. E que ainda este mês espera que possam sentar-se à mesa para dialogar.

“Que estas pessoas queiram discutir connosco é positivo. Nós valorizamos positivamente que haja outros que fazem a mesma análise e que queiram fazer parte da solução integrando um governo de esquerda. Ainda mais pessoas com a projecção política da Ana Drago”, disse ao PÚBLICO.

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