Dilma deseja fim da crise na Europa, Cavaco alerta para potencialidades de Portugal

Em público, não houve referências à privatização da TAP ou dos CTT.

Dilma fez uma visita de 48 horas a Lisboa
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Dilma fez uma visita de 48 horas a Lisboa Miguel Manso
Paulo Portas com o homólogo brasileiro, Antônio Patriota
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Paulo Portas com o homólogo brasileiro, Antônio Patriota Miguel Manso

Em duas intervenções de escassos minutos, foram definidos estilos e propósitos. Ao fim desta tarde, em Belém, a Presidente Dilma Rousseff não se esqueceu onde estava e desejou o fim da crise da Europa. O anfitrião Cavaco Silva prometeu os bons ofícios de Portugal no relacionamento do Brasil e do Mercosul [Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela] com a União Europeia, e alertou para as potencialidades do nosso país ainda desconhecidas dos empresários brasileiros.

“O Brasil tem sempre um olhar de preocupação na crise da Europa, a crise social e o desemprego, desejamos que esteja mais próxima a retoma para os povos europeus”, disse a Presidente brasileira. “Esta visita contribui para alertar os empresários brasileiros para as potencialidades de Portugal”, admitiu o Presidente da República.

Se Dilma mostrou compreensão solidária para com as crises que afectam os países da Europa, a sua intervenção sobre as relações entre Portugal e Brasil mostrou idêntica acuidade. Não ficou pela “parceria estratégica” enunciada por Cavaco Silva e ousou uma nova formulação: “Mudar de patamar no relacionamento.” Ou seja, ir para além das trocas comerciais dos tradicionais produtos manufacturados, e preferir novos produtos e de maior valor acrescentado.

Os exemplos a que a Presidente brasileira recorreu são de negócios já em curso: a Embraer em Évora, a Galp Energia nos campos petrolíferos brasileiros. E comentou, em tom muito favorável, os acordos celebrados entre o Ministério de Ciência e Tecnologia brasileiro e as autoridades de Portugal e Espanha responsáveis pelo Instituto de Nanotecnologia de Braga. “São símbolos de um novo patamar”, insistiu. Neste âmbito, concretizou, ainda, outras áreas de cooperação, as das indústrias criativas de produção cultural.

Em público, não houve pela Presidente nem nenhum dos seis ministros que a acompanharam durante a visita de 48 horas a Lisboa qualquer referência à privatização da TAP ou dos CTT. No entanto, os jornalistas brasileiros não escondiam o interesse sobre o tema.

Na comitiva presidencial brasileira, para além do chefe da diplomacia, António Patriota, da ministra para a área da Comunicação Social, e dos titulares da Educação, Cultura e Saúde, estava o responsável do Desenvolvimento e do Comércio Externo. A agenda deste membro do Governo de Brasília não foi conhecida e os passos divulgados de Dilma em Lisboa nada revelaram sobre o interesse de participar na corrida à privatização da companhia aérea portuguesa. Ao fim da tarde, decorria em São Bento o encontro com o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho. Por motivos protocolares e de agenda – a seguir seguia-se a cerimónia da entrega do Prémio Camões 2013 no Palácio de Queluz –, Dilma falou após o encontro com Cavaco. Daí, a importância da definição do “novo patamar”, que defendeu com exemplos para o relacionamento entre os dois países.

Entre as novas oportunidades, o ministro da Educação brasileiro, Eloizio Marcadante, destacou o aprofundamento da parceria no domínio aeroespacial. Foi esta tarde no Ministério dos Negócios Estrangeiros, após a assinatura do reconhecimento dos cursos de engenharia e arquitectura portugueses, que Marcadante apontou novos caminhos, como a parceria também subscrita neste domingo para o centro Biocante de Cantanhede. Aliás, foram estes os dois únicos documentos assinados no Âmbito da visita da Presidente Dilma Rousseff. Os efeitos visíveis de dois dias de jornada em Lisboa.

O ministro brasileiro explicou que o desbloqueamento dos “engenheiros portugueses” no Brasil tem uma lógica de mercado: por ano há a necessidade de 70 mil engenheiros, enquanto o país forma 44 mil. “O acordo celebrado relativamente aos títulos académicos significa o triunfo da persistência”, disse o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros. Paulo Portas não deixou de dar um recado às ordens profissionais, apelando a que tenham um espírito idêntico aos dos Governos português e brasileiros que levaram a uma solução.

Apesar da aridez técnica dos discursos, uma característica aliás definidora da personalidade de Dilma Rousseff, a Presidente brasileira surpreendeu: “Aqui, em Portugal, em cada esquina a gente vê um parente”.

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