Desemprego e falta de solidariedade estão a afectar a democracia, diz Sampaio

Ex-presidente critica também abstenção nas eleições e o poder da comunicação social.

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Jorge Sampaio Miguel Manso

O ex-presidente da República Jorge Sampaio apontou nesta sexta-feira como "problemas que afectam a democracia" europeia o desemprego, a falta de solidariedade e cooperação, a elevada abstenção e a influência da comunicação social, deixando um apelo à participação cívica.

No último dia das Conferências do Estoril, Jorge Sampaio lançou, sob o tema Globalização e Desafios para a Democracia, os cinco principais "problemas" que o preocupam nos dias de hoje na Europa: o elevado desemprego, a falta de solidariedade nas sociedades, a contínua abstenção no momento de escolher os líderes políticos, o poder dos meios de comunicação ao impor opiniões às pessoas e, por fim, o tipo de governação, que continua sem ter grande participação dos cidadãos.

"Se pensarmos no desemprego e, claro, no desemprego jovem, devemos perguntar de que tipo de democracia é que se está a falar, que tipo de Europa é esta que não faz nada para travar este problema", questionou Jorge Sampaio, sublinhando que este flagelo atingiu proporções "dramáticas".

O actual alto representante da ONU para a Aliança das Civilizações referiu-se ainda à "cada vez menos solidariedade e cooperação", devida à "clara perda de confiança em relação à União Europeia". "Precisamos de uma agenda europeia e liderança europeia para enfrentar esta situação, que é um grande desafio", disse Jorge Sampaio, apontando ainda as diferenças étnicas e culturais como outro "grande desafio democrático", uma vez que os problemas de desemprego afastam as comunidades.

O terceiro problema apontado pelo antigo Presidente da República foi a elevada abstenção, que, considerou, "é sinal de que alguma coisa está errada" e que exprime a necessidade de "modernizar o sistema político e os partidos".

Jorge Sampaio indicou ainda o poder dos meios de comunicação como outros dos factores que influenciam a democracia. "Os meios de comunicação têm um grande contributo para a definição da percepção pública, têm uma série de crenças e valores e isso traz informações necessárias, mas também informações que não são verificadas nem confirmadas. Será que os jornalistas também não são responsáveis? Não devem prestar contas ou admitir que erraram?", questionou.

Por fim, apontou as formas de governação concentrada nos políticos e sem participação cívica como outro problema. "A concentração de poder em algumas mãos não contribui necessariamente para um poder democrático forte. Se perdermos o verdadeiro activo que as pessoas representam, não podemos aproveitar as aspirações para uma sociedade mais robusta e alargada", sustentou.

Jorge Sampaio afirmou-se como "alguém que acredita na Europa", mas que está "decepcionado com a falta de liderança e soluções".

Depois de discursar, num painel de oradores que contou também com a participação do filósofo social Anthony Giddens, Jorge Sampaio respondeu a algumas perguntas do público, tendo oportunidade para reforçar que "os políticos devem ser honestos e estabelecer uma ligação mais estreita com os eleitores" e que a permanência de Portugal no euro não deve "sequer ser questionada", sendo que a solução passa por "pôr a casa em ordem".
 

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