Descentralização da conferência de líderes é uma “pequena revolução”

Reunião decorreu em Loures, fora do Parlamento, o que acontece pela primeira vez em democracia.

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Assunção Esteves Foto: Enric Vives-Rubio (arquivo)

A conferência de líderes reuniu-se, esta quarta-feira de manhã, pela primeira vez fora do edifício do Parlamento desde o 25 de Abril, deslocando-se para Loures, num momento que a presidente da Assembleia da República Assunção Esteves classificou como uma “revolução”. Até porque esta descentralização aconteceu num lugar simbólico: o Palácio da Mitra, onde há cem anos os deputados se reuniram para pôr fim à ditadura de Pimenta de Castro.

A reunião costuma juntar à mesma mesa, a cada quinze dias, os líderes parlamentares, os vice-presidentes da Assembleia da República e representantes do Governo, para fazer os agendamentos dos plenários. Desta vez, numa sala do Palácio da Mitra, em Santo Antão do Tojal, com vista para um laranjal (e não para a residência oficial do primeiro-ministro), juntou-se o presidente da Câmara Municipal de Loures, Bernardino Soares, ex-líder parlamentar do PCP que participou nas reuniões durante 12 anos.

“Não estamos aqui apenas a fazer nada de original, estamos a fazer algo que também é revolucionário. Cada acção nova é sempre uma revolução e hoje nós fizemos uma pequena revolução”, disse Assunção Esteves, no momento inicial da reunião, que foi aberto à comunicação social.

Neste momento “marcante”, como lhe chamou, a presidente da Assembleia da República assumiu sentir-se mais livre, na medida que se aproxima o fim da legislatura. “Sinto-me já como uma cidadã livre e ainda melhor nesta perspectiva de quem já vê de fora e está a dar sinal de quem viu por dentro. Temos de mudar os métodos da política, temos de trazer afecto, mais partilha, temos de ter um modo de relacionarmos nas instituições de um modo mais próximo”, defendeu.

“A descentralização é de certo modo um marco e um sinal de novas metodologias na política. Os escolhidos e os que escolheram sentiram-se mais próximos”, disse, depois de ter visitado a Casa do Gaiato, que se situa próxima do Palácio da Mitra.

Nesta reunião descentralizada, Bernardino Soares não deixou escapar a oportunidade para aludir ao centenário do Parlamento do Tojal quando os deputados ali se juntaram – já que a Assembleia estava cercada por tropas leais à ditadura – e aprovaram leis para contrariar o regime que tinha sido imposto. O antigo líder da bancada do PCP falou da “ressonância da actualidade” do acontecimento histórico de há 100 anos, recordando que naquele Palácio se disse que “a República vingará, a liberdade triunfará e a legalidade há de voltar a imperar em Portugal”.

“Nada que não tenha sido dito nos últimos anos por outras palavras na Assembleia da República”, afirmou, com um sorriso. No mesmo momento histórico, recordou, “defendia-se a Constituição contra leis injustas e os princípios que violavam essa mesma Constituição. Não faltará actualidade, na minha opinião, a estas intervenções”.  A declaração foi recebida com alguns sorrisos. 

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