Costa rejeita que convicções do PS sejam afectadas

Deputados do PS querem conhecer fundamentos da prisão preventiva de José Sócrates.

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António Costa vai acompanhar todas as jornadas ao lado do líder parlamentar, Ferro Rodrigues Enric Vives-Rubio

O líder do PS, António Costa, voltou a deixar uma mensagem tranquilizadora para o partido, insistindo na separação entre os "sentimentos pessoais" de cada um e o papel da Justiça. Na reacção à prisão preventiva de José Sócrates, Costa rejeitou que o partido seja afectado. "Nada disto penaliza e afecta as firmes convicções do PS quanto aos valores que são essenciais num Estado de direito democrático. A confiança nas instituições, a independência da Justiça, a presunção da inocência, a prioridade ao combate à corrupção e a defesa da transparência são valores que não estão nem nunca estarão afectados na vida do Partido Socialista", afirmou.

"É preciso separar os sentimentos pessoais de cada um e o papel que cabe à Justiça", frisou António Costa, à margem da Assembleia Municipal de Lisboa. Questionado insistentemente pelos jornalistas sobre o caso e as consequências para o partido, António Costa repetiu sempre a mesma ideia de que "este é o tempo da Justiça". "O que nos cumpre a todos, jornalistas e políticos, é confiar nas instituições", sublinhou.

O secretário-geral do PS negou haver qualquer fardo na liderança do partido com este escândalo. "O peso é da responsabilidade da construção da alternativa para o país", afirmou. António Costa quis ainda separar a questão judicial do julgamento histórico. "Uma coisa é o que a Justiça está a julgar, factos concretos; outra coisa é o julgamento histórico [da acção governativa]", frisou, lembrando reformas socialistas como a do Simplex e Novas Oportunidades.

Esta terça-feira de manhã, no Parlamento, João Soares, membro da comissão política do PS, reagiu negativamente à prisão preventiva de José Sócrates, criticando a circunstância de ter sido feita com o conhecimento de jornalistas e quando o ex-primeiro-ministro estava a entrar no país e “corria o risco” de ser detido.

“É injusta e injustificada”, afirmou o deputado, utilizando os mesmos termos que o advogado de José Sócrates quando foi conhecida a medida de prisão preventiva decretada ao antigo primeiro-ministro por crimes de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada. 

"Um ex-primeiro-ministro não deve ser detido naquelas circunstâncias, com conhecimento das televisões. Estava a entrar no país, não estava a sair, não há perigo de fuga, e sabendo [Sócrates] que corria o risco de passar por uma situação destas”, afirmou João Soares aos jornalistas, no Parlamento, assumindo-se como “amigo pessoal” de Sócrates. Relativamente ao partido, o antigo presidente da Câmara de Lisboa assume que o caso é uma dificuldade para o PS, mas assegura que o partido saberá “ultrapassar as dificuldades”.

Momentos antes, Maria de Belém, presidente do PS e deputada, considerou ser “estranho” haver pouca informação disponível sobre os fundamentos que levaram à prisão preventiva de José Sócrates. Outra deputada socialista, Gabriela Canavilhas, admitiu que a incomoda não saber o que levou o juiz a decretar aquela medida de coacção. Na liderança da bancada, há insistência em separar o caso da acção política do partido.

“É estranho, gostaria de saber mais. Gostaria de não ter sido surpreendida em relação à Justiça, mas isso é o funcionamento da Justiça”, disse aos jornalistas, no Parlamento, a ainda presidente do PS, quando questionada sobre se é pouca a informação disponível sobre o processo. À entrada do plenário, Maria de Belém reconheceu que não gostou de ter visto que houve fugas de informação na detenção, mas referiu que esse é o seu desejo de um funcionamento ideal da Justiça.

Questionada sobre se espera um ataque ao sistema judicial no congresso do PS, a deputada sublinhou a missão da Justiça. “As pessoas devem perceber que a Justiça tem o seu papel e ainda bem que assim é”, afirmou.

A ex-ministra da Saúde quis fazer a distinção entre os sentimentos pessoais e a acção política do PS, a menos de uma semana do congresso. “Certamente as pessoas estarão tristes e incomodadas. Outra coisa é o trabalho feito e realizado pelo PS.”

O interesse em conhecer a fundamentação para a prisão preventiva do ex-primeiro-ministro foi também manifestado por uma antiga ministra de Sócrates. “Seria interessante saber a fundamentação, é isso que nos incomoda”, disse Gabriela Canavilhas, que tutelou a pasta da Cultura no último Governo socialista.

“Responsabilidades enormes”

Na direcção da bancada, a questão central é a mesma referida pelo secretário-geral do PS, que é fazer a separação entre o caso Sócrates e a intervenção do partido. Foi o sentido de uma declaração sem direito a perguntas do líder do grupo parlamentar, Ferro Rodrigues.

“António Costa pediu que se distinguissem os sentimentos normais de amizade pessoal que existem para com o engenheiro José Sócrates da necessidade de o PS continuar a desenvolver as suas políticas de oposição e de alternativa a este Governo. É isso mesmo que hoje se passará [na Assembleia da República] e é isso mesmo que se passará no congresso do PS deste [próximo] fim-de-semana”, declarou.

Ferro Rodrigues pôs a tónica na intervenção partidária. "As responsabilidades do PS perante o país e em relação ao seu futuro são enormes e nós pensamos honrá-las completamente", vincou.

Ferro Rodrigues deixou depois uma mensagem de carácter pessoal dirigida à família do ex-primeiro-ministro, que foi também secretário-geral do PS entre 2004 e 2011. "Do ponto de vista pessoal, em termos afectuosos, quero enviar um abraço à família de José Sócrates e, nomeadamente, aos seus dois filhos", afirmou.

José Junqueiro, vice-presidente da bancada e antigo secretário de Estado de Sócrates, admitiu ver o caso com “grande constrangimento pessoal”, mas sublinhou a distinção entre a situação particular e o partido, que “está estável e tem secretário-geral”.

Também Vera Jardim, ex-deputado e ex-ministro da Justiça, falou do impacto e do "embaraço" da detenção do ex-primeiro-ministro.
 

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