Depois de PCP, BE mostra “enorme preocupação” com Paulo Macedo a liderar Caixa

Também o PEV disse esta tarde, no Parlamento, que o ex-ministro da Saúde é "uma potencial ameaça ao serviço público [da CGD]".

Foto
Paulo Macedo foi criticado pelo BE daniel rocha

No dia em que o Jornal de Negócios divulga "o plano", como lhe chamou, desenhado por António Domingues para a reestruturação da Caixa Geral de Depósitos, o Bloco de Esquerda juntou-se ao PCP nas críticas a Paulo Macedo. Foi a própria líder do partido, Catarina Martins que demonstrou “enorme preocupação” com a escolha do ex-ministro da Saúde de Passos.

“Devo dizer que não é propriamente com satisfação, mas sim com uma enorme preocupação que vemos que o Governo escolheu para liderar a Caixa Paulo Macedo, que foi ministro do Governo que mais privatizou e que mais pôs os problemas da banca para debaixo do tapete”, disse a líder do BE.

Na sequência da notícia do Negócios, o PÚBLICO contactou o Bloco no sentido de obter um comentário ao plano apresentado, mas o partido remeteu as declarações de Catarina Martins no debate parlamentar. Aí, a bloquista fez questão de deixar bem claro a Costa quais são as posições do BE em relação à CGD: limitação de salários e banco integralmente público. Não quer “uma Caixinha em Portugal” e defende “um debate mais profundo”, no próximo ano, “daqui a poucas semanas”, “sobre o que é o serviço público bancário.

A bloquista deixou também uma lista de reivindicações: “Precisamos de uma CGD que se mantenha como o maior banco do sistema, porque é importantíssimo para a sua estabilização. Precisamos que a Caixa esteja presente em todo o território e junto das comunidades maiores portuguesas fora do país. Não aceitamos que haja despedimentos e é seguramente necessário discutir qual é a política de crédito da CGD, porque deve ser direccionada para os sectores da economia produtiva, que gere emprego e pôr um ponto final a políticas de crédito que serviram jogos especulativos e jogos de poder.”

Esta intervenção levou António Costa a garantir que também não quer uma “Caixinha” e que, por isso mesmo, a CGD “manterá no seu plano de reestruturação uma cobertura completa do território nacional, com a sua presença junto das comunidades portuguesas”, e nos países de língua oficial portuguesa, funcionando "como um instrumento financeiro de apoio à internacionalização das empresas portuguesas". "No que respeita à redução de pessoal, o plano que foi apresentado e que o Governo aprovou não prevê despedimentos, prevê que haja uma redução progressiva, tendo em conta a passagem à reforma ou processos de rescisão amigável”, garantiu o primeiro-ministro, acalmando as preocupações do BE.

Caderno de encargos

Para o PCP a questão é simples: a Caixa deve ser recapitalizada exclusivamente com capitais públicos, o banco deve ser colocado no âmbito dos capitais mínimos regulatórios e autorizado a ir aos mercados internacionais, e não deve fechar operações nem contrair negócios. Esta espécie de caderno de encargos descrita ao PÚBLICO pelo deputado Miguel Tiago é a apreciação política que o PCP faz do caso e escusa-se a analisar questões específicas como a redução da remuneração dos depósitos ou a contabilização das imparidades.

Porque, argumenta o deputado que também integra a comissão parlamentar de inquérito à CGD, a opção da remuneração dos depósitos é uma questão “comercial” e decorre do excesso de liquidez do banco – tem demasiados depósitos e negócio de crédito insuficiente para os remunerar -, e o registo de imparidades decorre das obrigações da Caixa perante o Banco de Portugal. O que é preciso assegurar no caso das imparidades é que “não se baixa a guarda na recuperação dos créditos e que não haja ‘perdão’ dessas dívidas ao banco”.

Já sobre a redução de operações, nomeadamente em países como o Brasil, Espanha e África do Sul, o PCP diz que “não é boa política”, e não quer sequer ouvir falar de despedimento de trabalhadores, prometendo “bater-se contra isso no Parlamento”. “A Caixa vai receber capital público para ser mais sólida e robusta, para disputar livremente mais mercado, e para ter um papel preponderante na economia. Isso não se faz encerrando balcões nem despedindo pessoas”, defende Miguel Tiago.

No artigo “O plano para pôr o banco a dar lucro”, o jornal de Negócios adianta que está previsto "o fecho de 180 agências em quatro anos", sendo este "um dos aspectos do documento que pode sofrer ajustamentos". A prioridade relativamente à rede de distribuição "é fazer com que todos os balcões sejam rentáveis", diz o Negócios. "Os restantes 75 milhões de poupanças previstas nos custos operacionais até 2020 virão do corte de despesas com pessoal, possível graças à saída de cerca de 2200 trabalhadores (...) assegurada na sua maioria através de pré-reformas, estando previsto que se aposentem 550 colaboradores da CGD ao longo dos próximos quatro anos.”

Segundo resultados apresentados pela CGD referentes ao terceiro trimestre de 2016, tinha 720 agências em Portugal e 1212 no total. O número de empregados na actividade em Portugal era de 9489.

 

 

Sugerir correcção
Comentar