CPLP sonha alimentar o mundo, mas Ramos Horta alerta: primeiro há que educar as pessoas

Entre os nove países membros da organização não existe livre circulação de pessoas, de capitais e de serviços. Um constrangimento que está a dificultar a actividade empresarial.

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Ramos Horta faz um balanço positivo dos dez anos de independência Miguel Madeira/Arquivo

O III Fórum da União dos Exportadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que está a decorrer em Beja, propôs-se introduzir uma nova dinâmica na vida da organização que está a completar 20 anos: a dinamização económica.

A proposta partiu de Mário Costa, presidente da União de Exportadores da CPLP que fez uma análise da realidade actual dos países que compõem a organização: “Temos Portugal e Brasil com economias maduras, com tecnologia e know how e depois temos os países africanos e Timor-Leste com economias emergentes e virgens, muito dependentes do preço do petróleo.”

Apesar do contraste entre os membros da CPLP, Mário Costa acredita que este organismo “pode vir a tornar-se uma potência económica mundial dentro de três a quatro décadas” num universo de 86 países que representam 30% da população mundial de mercado.  

Subsiste um problema de fundo: Não existe livre circulação de pessoas, de capitais e de serviços dentro do espaço da organização. “Os empresários não podem estar à espera uma semana por um visto de Luanda” observa, embora este constrangimento burocrático já tenha sido abolido entre Portugal e S. Tomé, entre Portugal e Moçambique e entre este país e Angola.

Salimo Abdula, presidente da Confederação Empresarial da CPLP, reafirma o entusiasmo expresso por Mário Costa revelando um sonho: “Podemos alimentar o mundo”. A confirmá-lo, apresenta números: cerca de 37% das terras aráveis do planeta encontram-se na América do Sul, com o Brasil à cabeça. E no continente africano na zona subsariana, onde se localizam os membros da CPLP – Moçambique, Angola, Guiné Equatorial, Guiné Bissau, S. Tomé e Príncipe e Cabo Verde –, existem 33% de terras em condições de ser produzidas.  

O que está a fazer em Beja com o projecto pode ser replicado por “mil vezes mais com as terras disponíveis no continente africano e sul-americano", defende, “para alimentar este planeta”, acrescenta.

O prémio Nobel da Paz, Ramos Horta, que se deslocou nesta sexta-feira a Beja para participar na conferência “CPLP: Um Mundo de Oportunidades de Negócio”, procurou pôr alguma água na fervura do entusiasmo, aconselhando que em primeiro lugar, importa “consolidar a democracia, o Estado de Direito, investir fortemente na eliminação do analfabetismo e na redução drástica dos desequilíbrios sociais que provocam insatisfação e instabilidade”. E, sobretudo, “investir fortemente na educação e valorização das pessoas”, convidando os membros da CPLP a analisar o sucesso de alguns países como Singapura, Finlândia, Coreia do Sul, Japão e até os próprios EUA, que se resume a um detalhe: “Aposta forte na educação”.

Jovens timorenses, acentua Ramos Horta  “estudam em universidades, asiáticas, europeias e americanas, com o Estado a investir na sua formação” pois “temos consciência que as economias que dominam a informação, a tecnologia e a ciência são as mais fortes e estabilizadas” concluiu o ex-presidente de Timor-Leste.

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