António Costa reuniu-se com presidente da bolsa portuguesa

Líder do PS quer aperfeiçoar a forma de passar a mensagem do seu partido junto dos investidores.

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Costa esteve reunido com os autarcas do distrito de Viana do Castelo Nuno Ferreira Santos

No mesmo dia em que o secretário-geral do PS fez uma ronda de entrevistas por agências e publicações económicas internacionais, António Costa esteve também reunido com o presidente da Euronext Lisboa, Luís Laginha de Sousa. 

O encontro e a troca de impressões com o responsável da bolsa de Lisboa serviu, segundo informações recolhidas pelo PÚBLICO, para o líder do PS conseguir aperfeiçoar a forma de passar a mensagem do seu partido junto dos investidores, de modo a tranquilizar algumas inquietações. Em causa, está o cenário de uma eventual coligação de partidos de esquerda para formar Governo, o que pode gerar um ambiente de incerteza junto de quem investe nas acções e na dívida das empresas cotadas na praça nacional.

Nos últimos dias, o líder socialista António Costa tem feito questão de deixar claro às instâncias internacionais que uma solução de Governo à esquerda em Portugal não colocará em causa os compromissos europeus. Fê-lo de várias formas: numa reunião com embaixadores de países da zona euro, em entrevistas à Reuters, à AFP e ao Financial Times, repetiu esta mensagem: o PS está em melhor posição para formar Governo, é um partido pró-europeu, não é o Syriza e, se as negociações à esquerda, com o Bloco de Esquerda e o PCP, chegarem a bom porto, as regras europeias são para cumprir.

Nesta quinta-feira, Costa estará em Bruxelas, assim como o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, e a porta-voz do Bloco, Catarina Martins. Nos encontros que há antes dos trabalhos no Conselho Europeu, deverão informar as respectivas famílias políticas europeias sobre as negociações em Portugal com vista à formação do Governo.

Na quarta-feira de manhã, o secretário-geral socialista já se tinha reunido com embaixadores dos países da zona euro, a quem fez questão de reiterar que o PS é europeísta e assume os compromissos europeus. De acordo com a Renascença, os embaixadores também se encontraram ao final da tarde para discutir a situação política pós-eleitoral em Portugal.

E é sobre as implicações de uma eventual solução governativa de esquerda que Costa tem vindo a pronunciar-se, tentando espalhar a mensagem de que tal não implicará qualquer rompimento com Bruxelas. Em causa está o facto de Bloco e PCP terem posições diferentes do PS, no que toca por exemplo ao Tratado Orçamental ou à renegociação da dívida. Ao que tudo indica, estas questões não estarão em cima da mesa das negociações, nem deverão constituir entrave a um eventual entendimento.

Na terça-feira, o secretário-geral socialista já tinha dito, em entrevista à Reuters, que um eventual governo do PS apoiado pelo PCP e BE não colocará em risco as “regras europeias”. E, numa mensagem “especialmente” dirigida “aos mercados”, garantiu que Portugal “vai manter a estabilidade dos seus compromissos europeus”. As declarações foram feitas um dia depois da queda da praça de Lisboa.

Também num artigo publicado na terça-feira, intitulado Partidos portugueses de esquerda próximos de um acordo de coligação pró-euro, o Financial Times escreve que Costa está em vias de formar um governo antiausteridade apoiado pelo BE e pelos comunistas, num acordo “histórico” que garantiria o compromisso de Portugal em ficar no euro.

Costa disse que tal coligação respeitaria as regras da zona euro, mesmo incluindo o BE, próximo do Syriza, e o PCP, “antieuro”. E que não há motivos para apreensão, porque, argumenta, o PS é o partido mais pró-europeu em Portugal. Para o socialista, existe a possibilidade de reverter a austeridade sem pôr em causa as obrigações internacionais.

Com os socialistas na liderança, Portugal manteria a política em relação ao Tratado Orçamental, ao controlo do défice, à zona euro, e a reestruturação da dívida ficaria de fora. As barreiras ideológicas que separaram os partidos de esquerda desde 1974 foram finalmente superadas, acrescentou. “Isto é como derrubar os últimos restos de um muro de Berlim”, disse, frisando que não foi o PS que se mudou para o lado dos partidos anti-austeridade, mas sim estes que concordaram, pela primeira vez, em negociar um programa de governo comum sem pôr em risco os compromissos de Portugal enquanto membro da zona euro.

Também através de uma entrevista à AFP, Costa fez questão de tranquilizar os investidores, assegurando não só que “o PS não é o Syriza”, como é um partido que quer evitar qualquer nova crise na zona euro. E que um governo de esquerda teria como “base” o programa do PS. Com Lusa

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