Costa assinala rejeição dos gregos a um Governo de direita

Líder do PS tenta marcar a diferença em relação à direita, lembrando a implementação do Complemento Solidário para Idosos por oposição à expressão da “peste grisalha” do cabeça de lista da coligação na Guarda.

Foto
António Costa pretende ser presidente da AML Enric Vives-Rubio

O secretário-geral do PS, António Costa, reagiu este domingo aos resultados eleitorais na Grécia afirmando que a principal conclusão a tirar tinha que ver com a rejeição de um governo de direita.

"Neste momento o que há a dizer é que a Grécia fez o seu percurso, os gregos manifestamente recusaram regressar ao Governo de direita e ratificaram aquilo que tinha sido a solução negocial europeia antes encontrada."

A posição do principal partido da oposição foi tornada pública após mais um jantar-comício da campanha, desta vez na Guarda. António Costa rejeitou ainda fazer qualquer extrapolação das eleições gregas para o escrutínio português.

“O que se discute em Portugal não tem nada a ver com o que se discute na Grécia”, disse já depois de ter assumido a esperança de que a Grécia fosse agora capaz de seguir “um caminho de estabilidade que lhe permita encontrar o caminho do crescimento e sobretudo aliviar o sofrimento que a austeridade tem imposto ao povo grego durante estes anos”.

Mas a sua intervenção no comício da Guarda serviu acima de tudo para criticar coligação de direita pela “perseguição aos idosos”. Recuperou declarações do actual cabeça de lista da coligação no distrito – que recorreu à expressão “peste grisalha” num artigo de opinião publicado há dois anos – para se questionar porque é que Carlos Peixoto não tinha descido “na altura própria” para “último suplente da lista de candidatos” da direita.

Segundo o líder do PS, Peixoto não foi afastado das listas porque a sua afirmação representava “o que a direita efectivamente pensa dos idosos”

Costa lembrou ainda que a “primeira mentira em que a direita foi apanhada” depois de tomar posse foi precisamente em relação aos reformados. “A primeira coisa que fizeram foi cortar o 13.º e 14.º mês aos pensionistas sem que a troika o obrigasse”, disse.

E para marcar a diferença, António Costa recordou uma medida proposta e aprovada durante o Governo do socialista José Sócrates: “Puderam ser resgatados à pobreza, através de uma medida específica que se destinava só a eles, que foi o Complemento Solidário para Idosos. Graças a isso, a pobreza entre os idosos reduziu-se significativamente.”

“Portugal muito diferente”, dizem Passos e Portas
Passos Coelho e Paulo Portas preferiram focar-se nas diferenças entre Portugal e a Grécia. Falando apenas às televisões, questionado sobre o seu estado de alma face às eleições na Grécia, o presidente do PSD respondeu: "Eu não tenho estados de alma. Posso apenas dizer que, felizmente, Portugal vive hoje um clima bastante diferente daquele que se vive na Grécia".

"Nós vimos na Grécia realizarem-se este ano por duas vezes eleições gerais, felizmente nós tivemos estabilidade nestes quatro anos e enfrentamos agora as eleições com uma coligação que não só foi coesa e chegou ao fim do seu mandato, mas dá uma perspectiva muito diferente da que, infelizmente, os gregos têm, que é um novo programa e a austeridade", acrescentou.

O líder do CDS sintonizou a mesma frequência: "Fosse qual fosse o resultado na Grécia o meu comentário seria exactamente o mesmo, coerente com o que sempre dissemos. Respeitamos a escolha dos gregos, mas o caminho de Portugal foi diferente, é diferente e diferente será", afirmou Paulo Portas num jantar-comício.

"Na Grécia está lá a 'troika', nós já dissemos adeus à 'troika'. Eles vão no terceiro resgate, nós tivemos um e mais nenhum. Eles arriscam uma recessão, nós estamos em crescimento. Peço aos portugueses no dia 4 de Outubro que confirmem o ciclo de Portugal", disse.

Contra os partidos da troika
Por seu lado, PCP e BE vêm nos resultados da Grécia a condenação dos partidos que historicamente conduziram a Grécia "à catástrofe social e económica e à subordinação da troika", nas palavras do eurodeputado comunista João Ferreira.

"Estes resultados confirmam a condenação dos partidos que historicamente são responsáveis pela situação a que a Grécia foi conduzida, num quadro de posicionamento do Governo do Syriza e do Anel (partido Gregos Independentes), marcado por hesitações, contradições cedências e claudicações que conduziram ao novo memorando", disse o eurodeputado  à Lusa.

João Ferreira defende que, quer a evolução da União Europeia, quer o processo em torno da Grécia, "demonstram a necessidade de ruptura com estes processos de submissão aos interesses do grande capital financeiro e do directório de potências da União Europeia ao seu serviço".

"Evitou-se o pior cenário, que é o cenário em que - depois de toda a chantagem que a União Europeia fez, das instituições europeias, o Fundo Monetário Internacional, também o papel que o Banco Central Europeu fez para condicionar o exercício da democracia - seria voltar a ter um Governo da Nova Democracia, o principal responsável na situação em que a Grécia se encontra", afirmou, por seu lado, a eurodeputada do Bloco de Esquerda Marisa Matias.

Marisa Matias disse não saber que efeitos podem ter estes resultados nas eleições legislativas em Portugal. "Pelo menos tem o efeito de contrariar as declarações do primeiro-ministro que, de forma leviana, entendeu usar a expressão 'syrizar' para indicar que o povo voltaria à Nova Democracia e que o que isto mostra é que em três anos, em três eleições houve três vitórias na Grécia. Eu não sei se o primeiro-ministro poderá dizer o mesmo no dia 4 de Outubro".

A eurodeputada considerou ainda que o Syriza mostrou aos eleitores gregos que "há vontade" para "abandonar gradualmente a austeridade", mesmo que haja um memorando a aplicar na economia grega. com Lusa
 

 

Sugerir correcção
Ler 2 comentários