Costa guarda Paulo Macedo para o Banco de Portugal

Antigo ministro está "de reserva" para vice-governador de Carlos Costa. E só será solução para a Caixa se o Governo não tiver qualquer outra solução. Elisa Ferreira também será vice.

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Ex-ministro da Saúde a caminho do Banco de Portugal? José Sarmento Matos

Paulo Macedo pode ser um dos próximos vice-governadores do Banco de Portugal, confirmou o PÚBLICO junto de várias fontes políticas. O ex-ministro chegou a ser considerado há seis meses por António Costa, quando teve que pensar numa solução para a Caixa Geral de Depósitos, mas acabou por ser guardado para o banco central. E, também desta vez, só em caso de ausência de alternativas é que Macedo será considerado para a liderança do banco público caso António Domingues se demita, em consequência de toda a polémica com a sua declaração de património.

Para que o cenário se concretize será preciso, mesmo assim, que Carlos Costa concorde em ter Paulo Macedo na sua equipa. É que as regras das nomeações para o Banco de Portugal mudaram no final do Governo liderado por Pedro Passos Coelho, dando ao governador a primazia de propor quem entender para os cargos. Segundo soube o PÚBLICO, o governador tem dado sinais ao Governo de que essa pode ser uma boa solução.

Contactado, o Banco de Portugal preferiu não comentar mas, segundo informações recolhidas pelo PÚBLICO, Carlos Costa ainda não terá desencadeado os processos de escolha, tendo em conta a prioridade que está a dar ao processo de venda do Novo Banco. Quando o governador o fizer as suas escolhas, o ministro das Finanças fará uma proposta ao Conselho de Ministros, seguindo-se a homologação pelo Presidente da República. A opção Paulo Macedo tem, de todo o modo, a bênção de Marcelo Rebelo de Sousa que está, sabe o PÚBLICO, a par da preferência do chefe de Governo.

Um banco central mais político

A ideia de António Costa é que Macedo preencha um dos lugares que ficaram vagos no banco central. Desde meados de Setembro que os dois vices de Carlos Costa ultrapassaram o limite de cinco anos dos respectivos mandatos: Pedro Duarte Neves terá mesmo de sair do cargo, tendo em conta que acabou já o seu segundo mandato; e José Ramalho finalizou agora o primeiro mandato, podendo ser reconduzido. No Governo, porém, a preferência é para uma total renovação da equipa no Banco de Portugal, com Paulo Macedo a fazer equipa com Elisa Ferreira nos lugares de topo da administração. A ex-eurodeputada socialista, de resto, já entrou no banco central com esse lugar no horizonte, tomando em mãos dossiês sensíveis, como o da supervisão prudencial da banca.

O plano do Governo socialista para o Banco de Portugal está definido há muito em São Bento. O primeiro-ministro tem claro que o banco central tem de ter, na sua liderança, personalidades políticas - e não apenas economistas (ou “tecnocratas”, na expressão muitas vezes usada entre os socialistas). Com Carlos Costa inamovível - pela própria legislação, só poderia ser afastado por motivos muito excepcionais -, o caminho a seguir é preencher os cargos disponíveis com personalidades incontestáveis do mundo político.

Se Elisa Ferreira passou sem problemas no teste da nomeação (incluindo na audição parlamentar pela qual todos os candidatos têm de passar), também o ex-ministro da Saúde tem condições - acredita-se no executivo - para o fazer. Macedo foi ministro no Governo de Passos Coelho, o que é apontado como prova de independência da escolha; foi dos menos contestados pela oposição, na altura, apesar dos enormes constrangimentos orçamentais. E acrescenta a isto um currículo na banca: foi administrador do BCP, sendo agora administrador da Ocidental (também do grupo Millennium BCP). 

No Governo, a nomeação de personalidades políticas para o Banco de Portugal é vista como uma resposta política à imagem deixada por Carlos Costa - muitas vezes acusado em público de estar umbilicalmente ligado à política durante o período da troika. O reforço da relação política com o Banco de Portugal está, aliás, visível no Orçamento para 2017, onde os dividendos do banco central dão um contributo muito forte para a consolidação das contas públicas.

Com as relações com o governador normalizadas (nos últimos meses, depois do caso Banif, nunca mais se ouviu o PS ou membros do Governo sugerir um “falha grave” que abriria a porta a uma demissão), a verdade é que o executivo tem pela frente missões muito difíceis com o banco central. Desde logo a venda do Novo Banco (que Centeno já disse esperar que se concretize até ao fim do ano), passando também pela construção de um veículo financeiro que consolide o malparado dos bancos - ponto que merece resistência da banca, mas sobre o qual Carlos Costa e António Costa estão de amplo acordo. Isto para não falar, claro, da normalização da CGD.

O PÚBLICO confrontou o Banco de Portugal com a informação de que Paulo Macedo é o nome escolhido pelo Governo para ocupar um lugar de vice-governador do Banco de Portugal, mas a instituição liderada por Carlos Costa preferiu não comentar. Também Paulo Macedo não fez comentários.

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