Costa e Rio preocupados com risco do radicalismo

Uma solução política para a crise que assola a União Europeia e o euro junta PSD e PS, pelas vozes de Costa e Rio

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A necessidade de encontrar uma solução para a crise política que se vive na União Europeia por causa da resolução do impasse em torno da dívida pública grega foi ontem defendida pelo líder do PS, António Costa, e pelo ex-presidente da Câmara do Porto e antigo secretário-geral do PSD Rui Rio.

Ao abrir a reunião da comissão nacional do PS, em Setúbal, Costa defendeu que "a melhor forma de defender o projecto europeu, de defender o euro, é criar condições para que no campo democrático dos defensores da integração europeia, dos defensores do euro, seja possível criar alternativas que reforcem a Europa e que reforcem o euro".

Não ignorando o risco de ruptura que pode desenhar-se na União Europeia, Costa argumentou mesmo, segundo a Agência Lusa,  que, "se não criarem alternativas entre os defensores do euro e os defensores da Europa para uma nova política, essas alternativas surgirão, não entre os defensores da Europa, mas entre os inimigos da Europa, não nos defensores da democracia, mas nos defensores do radicalismo, não nos defensores do euro mas naqueles que querem combater o euro".

Um pouco antes de Costa falar em Setúbal, em Barcelos, ao falar aos jornalistas, à margem de uma conferência sobre poder local, Rui Rio afirmou que “tem de haver aqui bom senso de parte a parte”, nas negociações entre os líderes da União Europeias e o Governo grego. “Espero que haja bom senso da Europa, e particularmente da Alemanha, e também bom senso da parte da Grécia. Se não houver bom senso de uma das partes, isto é um choque brutal. A saída da Grécia é um choque brutal, o não pagamento da dívida é um choque brutal, o colapso da economia grega é um choque brutal", afirmou.

Rio considerou ainda que "tem de haver da parte da Europa um esforço no sentido de entender o que aconteceu na Grécia", mas a Grécia também "tem de entender que tem compromissos que assumiu e que tem de cumprir". E lembrou que "o povo grego sofreu muito" e que expressou a sua "revolta" através do voto, dando a vitória ao Syriza: "Temos de ser capazes de entender essa revolta, na medida do possível. Se formos muito firmes, se houver um grande braço-de-ferro, quer de um lado quer do outro, vai correr mal."

Costa quer alternativa
O secretário-geral do PS não perdeu a oportunidade de puxar a polémica europeia sobre a dívida grega para o plano da política nacional e lembrar a situação da dívida portuguesa e a necessidade de para ela encontrar soluções. Defendeu que as mudanças que já se verificam na Europa têm de aprofundadas e sustentou que o plano Juncker ou o programa do BCE não são ainda suficientes.

"Mas não é esta a posição do Governo português", condenou Costa, acusando o primeiro-ministro, Passos Coelho, de recusar uma "leitura inteligente do tratado orçamental" e de ter sido derrotado pelo programa de compra de dívida do BCE. "O novo campo hoje do debate democrático já não está reduzido às fronteiras de cada Estado nacional, trava-se à escala europeia", disse, defendendo a necessidade de "alianças alargadas a nível europeu".

António Costa sublinhou que o PS não está contra a União Europeia, qualificando-o, aliás, de "partido campeão da integração europeia em Portugal", mas advertiu: "Ou a Europa muda de política ou a Europa perderá o apoio popular". E defendeu que, apesar do plano Juncker e do programa do BCE constituírem sinais "importantes", não haverá relançamento da economia enquanto se persistir na austeridade. “É preciso travar a austeridade para relançar a economia e poder criar emprego e ter crescimento", declarou, reclamando que mais investimento, mas também defendendo uma "alteração na política de rendimento".

Demarcação do Syriza
O líder do PS não deixou passar o momento para clarificar a posição do PS face às eleições gregas. E demarcando-se de uma posição seguidista em relação às exigências da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Mundial Internacional, que identificou com os socialistas gregos, afastou-se também de qualquer identificação com o Syriza.

"A verdadeira e única lição que temos a retirar das eleições gregas é que o PS em Portugal não é nem será o PASOK, porque não estamos cá para servir as políticas que têm sido seguidas mas, pelo contrário, criar alternativa às políticas que têm sido seguidas", afirmou Costa, defendendo a necessidade de "travar a austeridade" e de elevar o "debate democrático" à escala europeia, apontando para um caminho que não é necessariamente o do Governo do Syriza.

Com alternativa Costa lembrou as soluções e as opções tomadas pela Irlanda para resolver os seus problemas com o controlo da dívida pública. "A verdade é que não é preciso olhar para o novo Governo grego, basta olhar para o velho Governo irlandês, que perante as oportunidades de mudança aquilo que diz é: esta mudança tem que ser mais vasta, tem que ser mais consistente e tem também que servir os interesses da Irlanda", afirmou.

O líder do PS garantiu mesmo que "não é uma questão de ser radical ou não ser radical, não é sequer uma questão de ser de esquerda ou ser de direita, é uma questão de ser patriota e de ter ou não ter centradas as atenções na defesa dos interesses da economia nacional".

 

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