Costa diz que Governo devia focar-se em apresentar um programa para o país

Líder do PS respondeu a Passos Coelho que tinha criticado os socialistas por proporem medidas liberais.

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António Costa Nuno Ferreira Santos

O secretário-geral do PS, António Costa, afirmou esta sexta-feira, em Coimbra, que os ministros, "em vez de se concentrarem tanto a criticar o programa do PS", deveriam focar-se na governação e na apresentação de um programa para o futuro do país.

“Todos os dias há uma espécie de concurso dos ministros a criticar o programa do PS, [mas] em vez de se concentrarem tanto a criticar o programa do PS, era fazerem a sua primeira missão, que é governar, e apresentar um programa para o futuro do país”, sublinhou António Costa, que falou aos jornalistas à margem de uma visita à farmacêutica Bluepharma, em Coimbra.

O secretário-geral socialista afirmou que "gostaria de poder ler um programa" do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, sublinhando que o PS já apresentou um "documento estratégico", um cenário macroeconómico, e tem, em debate público, um projeto de programa eleitoral, mas "do primeiro-ministro não sabemos nada".

"Sabemos que as previsões económicas que têm não merecem sequer a confiança da União Europeia, do FMI [Fundo Monetário Internacional] ou da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico]", realçou.

Sobre as críticas de Passos Coelho ao programa do PS, António Costa sublinhou que o primeiro-ministro tem "uma dificuldade na leitura dos documentos do PS", sendo que "um dia olha para os documentos e vê documentos radicais e esquerdistas e noutro dia olha para os mesmos documentos e vê perigosos liberais".

Sem estabilidade “é o diabo”
Em entrevista ao jornal digital Observador, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, sustentou haver medidas apresentadas pelo cenário macro económico do PS “que são perfeitamente liberais” e que não subscreve. O contrato único de trabalho foi o exemplo dado. “Um mecanismo destes é um mecanismo bastante liberal – e até fico muito espantado que um partido como o PS, que nunca aceitou rever um conceito sequer de justa causa (…) aceite um mecanismo que permite despedir, embora a um custo mais elevado”, afirmou.

Relativamente à descida da Taxa Social Única (TSU) proposta pelo PS – inicialmente para trabalhadores e empresas e agora só para os primeiros – o chefe de Governo considera que a medida é arriscada. “Não é orçamentalmente suportável – representa uma perda de financiamento para a Segurança Social que punha em risco o pagamento das pensões. Para não pôr em causa isso, teria de ser o Orçamento do Estado a substituir-se às empresas e aos trabalhadores e a financiar o Orçamento da Segurança Social nesses valores – o que seria incomportável face às regras europeias”, afirmou.

Numa apreciação mais global sobre uma das matrizes do projecto de programa do PS, Passos Coelho criticou a aposta na dinamização da procura interna. Escudando-se na opinião de Teodora Cardoso, presidente do Conselho de Finanças Públicas, o primeiro-ministro considera que essa opção tem conduzido “a uma situação de endividamento do país” e que a médio e longo prazo provoca “o pior dos resultados”. A solução é que a oferta tenha “uma pujança maior”.

Relativamente à extensão das maturidades para o reembolso dos empréstimos, o chefe de Governo considera que, se não tivessem sido conseguidas, Portugal teria sido “muito provavelmente” empurrada para um segundo resgate. E adianta que não deverá ser necessário pedir uma nova extensão na próxima legislatura.

A poucos meses da campanha eleitoral para as próximas legislativas, Passos Coelho explicou que não quebrou promessas quando assumiu a liderança do Governo e teve que cortar salários e pensões. Foi antes um “esclarecimento de um rumor” que circulava sobre os cortes de salários e pensões, já que pensou que essas medidas não seriam necessárias. Mas a situação orçamental deixada pelo Governo anterior estava subavaliada e surpreendeu a própria troika, revelou.

Já sobre o próximo Governo, Passos Coelho sublinhou a importância de ser estável. E diz mesmo que, se os resultados das eleições não proporcionem isso, “vai ser o diabo”. Mas um entendimento com o PS de António Costa volta a ser afastado. “Como é que é possível antever como provável um entendimento com alguém que anda todos os dias a dizer que vai desfazer o que nós fizemos?”, interrogou-se, escusando-se a adiantar se sai da liderança do PSD, em caso de derrota. 

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