Costa alarga secretariado para acomodar difícil pacificação interna

Futuro líder do PS tem ensaiado medidas que permitam concretizar unidade socialista. Mas a eleição para os delegados ao congresso revela que o processo é um intrincado jogo de xadrez.

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Costa quer integrar nomes da facção segurista nos órgãos do PS Rui Gaudêncio

À partida, os 68% alcançados nas primárias ofereceriam a António Costa a oportunidade de gerir, sem grandes sobressaltos, a sua ascensão à liderança do PS. A realidade, no entanto, é que o processo se está revelar um intrincado jogo de xadrez que está a dar algum trabalho à equipa do candidato socialista a primeiro-ministro.

O autarca de Lisboa tem tomado um conjunto de medidas para facilitar ao máximo a rápida pacificação interna do PS. O melhor exemplo encontra-se na proposta de alteração aos estatutos que apresentou quando se candidatou à liderança e que será votada no congresso. Costa alargou a composição do secretariado nacional – o órgão executivo do partido - dos actuais 11 para 15 elementos. Uma forma de acomodar naquele órgão, tanto o seu núcleo duro, como um grupo restrito de dirigentes provenientes da facção segurista. Mas esse exercício de unidade torna-se mais difícil à medida que se desce na hierarquia do PS.

Esta sexta-feira e sábado, os socialistas escolhem por eleições directas o futuro secretário-geral e os delegados ao congresso que se realiza em Lisboa para a semana.

Se a eleição para líder parece unânime – apenas António Costa avançou –, o escrutínio para os cerca de mil delegados está a revelar-se menos pacífico. Apesar do esforço para a constituição de listas únicas ao congresso, levado a cabo tanto por dirigentes afectos a Costa como por personalidades próximas da direcção de Seguro, a verdade é que tal não será possível em parte das secções socialistas.

A principal razão invocada para esse insucesso, explicam dirigentes nacionais que se têm empenhado nesse processo, tem a ver com as “rivalidades e inimizades locais”. É um fenómeno disseminado por todo o território nacional. Em Corroios, por exemplo, na federação de Setubal que elegeu uma das socialistas mais próximas de Costa (Ana Catarina Mendes) para líder, estão constituídas três listas que concorrem à eleição de delegados.

Em Braga, há também um número relevante de secções onde o objectivo da lista única não foi atingido. A justificação apresentada remonta às eleições federativas. Esta foi uma das distritais em que se verificou uma maior “clivagem” entre as duas facções. O que tornou a conciliação mais difícil.

Mas neste processo também surgem imponderáveis que atrapalham a unificação interna. Outro exemplo disso era ontem evidente a Norte. As hostes afectas a António Costa reagiram com alguma indignação à entrevista que Francisco Assis deu quarta-feira ao jornal electrónico Observador, na qual defende uma coligação entre o PS e o PSD. “Se houver necessidade de um governo de coligação, terá de ser de direita” e “com o PSD”, afirma o deputado europeu.

As reacções à posição de Assis não se fizeram esperar e pouco depois a polémica chegava às redes sociais. Tiago Barbosa Ribeiro, que pode vir a liderar a concelhia do PS-Porto, caso Manuel Pizarro venha a integrar o secretariado nacional de António Costa, contestava a “absurda entrevista” do eurodeputado, considerando que um entendimento com o PSD “é algo que está para além de qualquer compreensão lógica, a não ser uma obstinação ideológica que nada acrescenta aos socialistas”.

“Não consigo perscrutar por que razão, a pouco mais de uma semana da realização do congresso, Francisco Assis vem falar de uma coligação com a direita, quando o futuro líder do PS defende uma maioria absoluta”.

A reacção anti-Assis atrapalha o esforço que alguns têm feito para incluir alguns dos nomes mais ligados à fase final do Segurismo na nova direcção socialista.

Mas tanto do lado costista como da parte dos seguristas, é Leiria que suscita maior preocupação. A eleição para a liderança distrital tornou-se num imbróglio político que, muito provavelmente, vai resultar num embaraçoso caso judicial.

Derrotado nas directas em Setembro, António Sales e os seus apoiantes levaram até às últimas consequências as suas denúncias de fraude eleitoral nas eleições que deram José Miguel Medeiros como vencedor. Sales confirmou ao PÚBLICO terem já sido enviadas ao Ministério Público provas documentais de “uma dezena” de suspeitas de fraude em Pombal e Óbidos. O médico denunciou a "descarga", em Pombal, de cerca de 50 votos de militantes que, argumentou, não participaram no acto eleitoral. Alguns destes aceitaram assinar declarações nas quais garantiam estar no estrangeiro à data das eleições. Dada a derrota por apenas sete votos, a situação levou Sales a contestar os resultados.

Medeiros e os seus apoiantes esforçaram-se por para apresentar listas únicas de delgados ao congresso. Incluíram mesmo o mandatário de Sales a encabeçar uma dessas listas. Mas Sales reconhece que essas listas “não são espelho do que se passa nas secções”.

O círculo de poder de António Costa

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