Cortes sem repensar a rede diplomática

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Rui Machete, ministro dos Negócios Estrangeiros Miguel Manso

Tradicionalmente discreta por opção, a diplomacia sofreu nesta legislatura os rigores da austeridade. A opinião pública foi sacudida pelo encerramento de nove embaixadas e representações, sete consulados e as revelações sindicais de uma diminuição de quase 500 funcionários. Contudo, estes cortes não levaram a repensar a estrutura da rede diplomática.

Nas vésperas da apresentação do Orçamento do Estado de 2012, Paulo Portas, então ministro dos Negócios Estrangeiros, encerrou sete embaixadas, duas missões e cinco vice-consulados. No final, a presença de Portugal no estrangeiro ficou amputada das embaixadas nos países bálticos – Eslovénia, Bósnia e Lituânia –, e das representações em Malta, Chipre, Andorra e Nairobi. “Caíram” os consulados de Nantes, Lille, Clermont-Ferrand, Frankfurt, Osnabrck, Andorra e Nova Iorque.

Também diminuiu drasticamente nas embaixadas a assistência de conselheiros técnicos, da cultura à economia passando pela imprensa, levando a situações impensáveis. Na semana passada, José Cesário, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, referiu ao PÚBLICO a urgência da nomeação da deputada do PSD Maria Ester Vargas para técnica social na embaixada de Berna por naquela representação só existir o embaixador.

São as consequências de um corte na escassez – as verbas dos Negócios Estrangeiros representam pouco mais de 0,5% do Orçamento do Estado –, cujo critério não levou, segundo diplomatas, ao repensar da rede diplomática. As reaberturas entretanto anunciadas correspondem a uma folga orçamental no final da legislatura. E as nomeações de diplomatas que exercem funções em gabinetes ministeriais suscitam polémica.

Com dois ministros na pasta, o desempenho da diplomacia foi marcado pela assistência financeira externa. Um país sob assistência fica, naturalmente, muito enfraquecido. O Tratado de Lisboa retirou os chefes da diplomacia dos Conselhos Europeus e o crescente peso, pela crise, dos ministros das Finanças no Ecofin e no Eurogrupo tornou menos visível a acção das Necessidades. Portas continuou a protagonizar aspectos da diplomacia económica. O seu sucessor Rui Machete colocou na agenda a situação do Golfo da Guiné, cuja derivação para o Sahel, Líbia e o terrorismo vai para além do original problema da pirataria na costa ocidental africana. 
 

 

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