Costa assume “negociação” do Tratado Orçamental, da dívida e necessidade de investimento

Candidato às primárias do PS abriu algum do jogo sobre as “três questões políticas” de curto prazo e pediu maioria absoluta, caso dispute legislativas.

Fotogaleria
António Costa: "É um erro pensar que resolveremos os problemas sem termos uma economia sã” Adriano Miranda
Fotogaleria
O debate acontece numa altura em que Costa defende a criação de um banco mau
Fotogaleria
O primeiro-ministro voltou a criticar o PSD por causa da comissão de inquérito

Era para ser uma convenção para debater os problemas “estruturais” e a “visão estratégica” para o país mas, no discurso de encerramento da iniciativa Mobilizar Portugal, em Aveiro, o candidato às primárias socialistas, António Costa, acabou por levantar o véu sobre qual será a sua táctica para os “problemas de curto prazo”.

A pairar sobre o candidato a sucessor de António José Seguro na liderança do PS estava, desde que havia anunciado o programa da convenção, a ausência de discurso sobre a dívida e sobre a Europa.

Neste sábado, perante cerca de mil participantes que se dividiram antes pelos nove painéis de debate, o autarca de Lisboa abriu o jogo. Não falou em renegociação, mas assumiu o empenho para lutar por “um novo equilíbrio entre os nossos compromissos”.

Depois dos temas estruturais, Costa virou a sua atenção para o que preparava “a par da Agenda para a Década” debatida durante o dia. Assumiu “três questões políticas” que pretendia “responder” na sua moção a apresentar nas primárias e no seu programa de Governo, caso vencesse essas eleições. Entre estas estava como “gerir o enquadramento europeu”.

Foi aí que falou nesse “novo equilíbrio entre compromissos”, que identificou. Prometeu um Governo “batalhador” na Europa que lutasse por “uma nova leitura do Tratado Orçamental”, que permitisse “ajustar as metas ao ciclo económico”, e assumiu a batalha para equilibrar a necessidade “de cumprir o serviço da dívida e as necessidades de investimento” da economia. Falou em “refocar o quadro financeiro” europeu, já depois de lembrar que esse embate na Europa não teria de ser feito sozinho, ao referir que já via “mudanças” nos discursos tanto do novo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, como no próprio Conselho Europeu.

Como governar
Outra das “três questões políticas” a que se propôs responder foi “como governar”. Pediu a “maioria absoluta” porque, apesar de ver “com interesse as várias e livres animações” na esquerda, reconhecia com “realismo” que nesse espectro “nunca” o PS tinha encontrado “disponibilidade” para “assumir a responsabilidade” de governar.

“Temos que estar preparados para assumir por inteiro as nossas responsabilidades”, avisou perante o entusiasmo dos seus apoiantes. Mas a ovação maior foi quando Costa fechou a porta ao actual PSD e CDS. “Para sermos alternativa ao Governo, não podemos ser governo com quem faz parte do actual Governo.”

O autarca identificou depois a última “questão política” de curto prazo: um “plano de recuperação económica e social”, que separou em três eixos. Prometeu “travar a austeridade para dar confiança”. E definiu que a restauração da confiança começaria pelos pensionistas, através da “estabilidade das pensões já formadas”, para mostrar que “o Estado é uma pessoa de bem”.

Depois virou-se para as empresas para defender o “desbloquear da sua capitalização”, recorrendo ao BCE, ao BEI e ao “próximo Quadro Comunitário de Apoio”. Pelo meio, deu a entender que enterraria o Banco de Fomento, proposto por Seguro, e que o Governo tarda em colocar em funcionamento.

“Parem e utilizem a Caixa Geral de Depósitos de uma vez por todas”, gritou para êxtase da assistência. E virou-se depois para os vistos gold. Embora reconhecendo o seu “sucesso”, considerou “imperdoável” que estes não tivessem como condição para a sua aceitação investimento em empresas “inovadoras”.

Entre as suas medidas, ainda houve espaço para visar Seguro. “Esta não é uma questão pessoal, é uma questão política. Queremos mesmo ser uma alternativa ou uma mera alternância ao Governo que está em funções? É que, para ser alternância, basta ganhar por poucochinho, e quem está disposto a ganhar por poucochinho é porque está disponível para fazer poucochinho”, disparou perante mais uma ovação da sala do Centro de Congressos de Aveiro.

A elite socialista em Aveiro
A iniciativa fez chegar à cidade uma parte significativa da elite socialista de agora e de outros tempos. O executivo camarário de Lisboa esteve presente desde o início, com Fernando Medina, Duarte Cordeiro e o arquitecto Manuel Salgado. O líder da distrital de Lisboa, Marcos Perestrello, também por ali passou, fazendo, como muitos dirigentes, o roteiro pelos painéis. O deputado João Galamba andou pelos debates sobre a Modernização do Tecido Empresarial e da Ciência. O ex-secretário de Estado João Gomes Cravinho, que coordenou o painel da Lusofonia, andou a tirar apontamentos nos debates sobre Cultura e sobre Ciência. Entretanto, ia percorrendo os mesmos corredores que os também ex-governantes João Tiago Silveira, Ana Paula Vitorino, Capoulas Santos e Pedro Silva Pereira.

António Costa tentava fazer o mesmo, quando não era puxado para um canto por um militante para discutir a importância essencial de um qualquer tema ou para atender uma qualquer telefonema de um telemóvel que não era o seu.

O ex-ministro de António Guterres, João Cravinho, também por lá esteve. Estava à porta do grande auditório quando Carlos Farinha Rodrigues, o coordenador do painel sobre Coesão Social, reconheceu a sua “saudade” pelas políticas de Guterres e Sócrates no combate à pobreza extrema, antes da intervenção de Costa.

Sócrates e Guterres, aliás, foram sempre aplaudidos de cada vez que os seus nomes foram referidos. Nomes de esquerda assumidos como uma bandeira das políticas de esquerda. Porque, rematava Costa, já bastava de direita. “Quem pensa como a direita acaba a governar como a direita”, atirou o desafiador de António José Seguro.

Sugerir correcção
Comentar