Contrapartidas sem ter em conta ENVC foram "catástrofe", diz Castro Caldas

Ex-ministro da Defesa discordou da negociação das contrapartidas da compra dos submarinosa alemães.

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Os submarinos foram comprados em 2005 RUI GAUDÊNCIO

O antigo ministro da Defesa Castro Caldas classificou esta quarta-feira de "catástrofe" para a indústria portuguesa a negociação de contrapartidas para a compra dos submarinos alemães sem ter em conta o potencial dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC).

"Estive em grande choque com a política de contrapartidas, com os interesses económicos instalados. Eu defendia investimento directo em termos industriais (em Portugal) e não a alocação em meios exteriores ao sector da Defesa. A ideia era a instalação de um cluster da Defesa, com grande potencialidade", afirmou o ex-responsável, no Parlamento.

Castro Caldas garantiu que era favorável à montagem dos submarinos (off-set) nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), com vista à sua dinamização e modernização, quando interpelado pela democrata-cristã Cecília Meireles e vários parlamentares do PSD, na Comissão Parlamentar de Inquérito aos Programas Relativos à Aquisição de Equipamentos Militares (EH-101, P-3 Orion, C-295, torpedos, F-16, submarinos, Pandur II).

"Hoje, sei do falhanço, da autêntica catástrofe das contrapartidas dos submarinos. É uma catástrofe industrial, um desastre pela não-execução das contrapartidas nas nossas instalações navais", lamentou.

Contudo, o ex-governante garantiu que entre os dois concorrentes da altura, Alemanha e França, a escolha era óbvia, a favor dos alemães, uma vez que teve oportunidade de fazer uma visita ao Chile, que tinha recebido submarinos gauleses da classe scorpene, e os próprios responsáveis da Armada daquele país atestaram "toda a complexidade industrial do modelo" ao nível da propulsão e da insonorização.

"Deixavam muito a desejar", acrescentou.

Castro Caldas criticou ainda a ineficácia da Comissão de Acompanhamento do Processo de Aquisição dos Submarinos e da Comissão Permanente de Avaliação das Contrapartidas na avaliação do processo de execução, referindo-se à dificuldade em os seus membros se reunirem e à difusão de projectos para analisarem e verificarem o respectivo cumprimento do estabelecido, nomeadamente com a empresa alemã Ferrostaal.

"A culpa vai morrer solteira porque não tivemos a eficácia que o magistrado alemão conseguiu para resolver e foi logo na fase de inquérito. O Estado alemão recebeu logo o dinheirinho a que julgava ter direito. É muito difícil apurar responsabilidades se não for na hora, assim que se toma conhecimento. Agora, 10 anos depois? Quando as pessoas já cá não estão?", vaticinou, referindo-se à actuação do Ministério Público germânico.

Os trabalhos da comissão de inquérito prosseguem quinta-feira, com a presença de mais ex-titulares da pasta da Defesa, Rui Pena e Jaime Gama, antes da audição ao atual vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, sexta-feira.

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