Contra promessas do PS, Passos veio debitar o trabalho feito

Poucas horas depois de o PS apresentar programa eleitoral, primeiro-ministro arrancou o debate quinzenal a tecer loas às reformas do Governo para mostrar que tem trabalho feito.

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Pedro Passos Coelho Pedro Nunes

Durante 12 minutos, o primeiro-ministro parecia estar no debate do estado da nação, marcado para o início de Julho, e não apenas num simples debate quinzenal. Sem dar qualquer novidade, Pedro Passos Coelho fez o balanço da actividade do seu Governo para mostrar que tem obra feita, apenas três horas depois de o PS ter apresentado as suas promessas eleitorais.

O chefe do Governo avisou que, apesar de o país poder comemorar o primeiro ano sobre a saída da troika, terá que manter, neste período pós-troika, o caminho de consolidação para que possa manter-se “autónomo e não volte a ter que pedir a intervenção externa”.

Pedro Passos Coelho passou em revista as reformas em diversos domínios, da Justiça à fiscalidade verde, da Defesa aos fundos comunitários, da Educação às privatizações e concessões. Referiu-se especificamente aos médicos de família, uma das medidas emblemáticas apresentadas também pelo PS.

"Estamos convencidos de que conseguiremos, até ao final do ano, com a extensão do regime excepcional para a contratação de médicos aposentados, com outras medidas, garantir que - até ao final do ano, como dizia - todos os portugueses possam ter médico de família", declarou Passos Coelho, na abertura do debate quinzenal, no parlamento.

E rematou com a habitual referência à “melhoria da actividade económica”, e realçando que Portugal conseguiu esta quarta-feira, “pela primeira vez na sua história, fazer emissão de bilhetes do Tesouro a taxas negativas” –, o que considerou um reflexo da confiança que o país angariou com as reformas feitas na sequência do programa de ajustamento.

Ser previsível é bom?
Na interpelação do PS, o líder da bancada socialista Ferro Rodrigues criticou a “previsibilidade” do primeiro-ministro, considerando que a intervenção tinha um “pendor burocrático”, mais parecia um “relatório de contas de uma administração”.

“Prefiro sinceramente ser muito previsível do que regressar aos tempos da imprevisibilidade e da incerteza”, ripostou Passos Coelho, numa alusão ao pedido de ajuda externa feito pelo governo socialista liderado por José Sócrates.

Ferro Rodrigues questionou o motivo de comemoração da maioria pela saída da troika, que juntou o primeiro-ministro e o vice-primeiro-ministro no passado sábado, referindo vários recordes (pela negativa) como o do desemprego, do baixo investimento e do número de falências.

Na sua intervenção de resposta, Passos Coelho reforçou a mensagem de estabilidade e de trabalho feito do Governo, lembrando o “crescimento da economia, a melhoria do emprego”. “Isso é bom que seja previsível, voltar a um tempo mais sólido”, sublinhou.

Questionado sobre se o Governo pretende seguir o mesmo caminho, Passos afirmou não ter dúvidas e contrapôs: “Do que não precisamos é de percorrer o caminho que os senhores têm vindo a propor a Portugal”.

Ferro Rodrigues apontou a contradição entre o prometido na campanha de 2011 e o que foi feito no Governo. “Eu estou aqui a defender os mesmos princípios de há quatro anos”, disse causando uma grande agitação na bancada do PSD, ao considerarem que se tratava do pedido de ajuda externa. O ex-ministro socialista esclareceu, depois, que se referia a questões de solidariedade e de aumentos de impostos.

Só já no final do duelo com Ferro Rodrigues, o primeiro-ministro deixou cair o que pensa sobre as propostas socialistas: “Mais consumo, uma estratégia de crescimento liderada pelo consumo, rendimento disponível dado às pessoas de forma artificial, sem compensação, e consegue dizer que prossegue a política que nos conduziu ao resgate”.

PS tem "saudades da troika"
Os dois líderes parlamentares da maioria alinharam no discurso crítico ao PS. O centrista Nuno Magalhães pegou no termo usado por Ferro Rodrigues que disse ser um “insulto” ver o Governo a fazer comemorações quando a troika deixou o país na crise. “Insulto, insulto, insulto, foi em 2009, para ganhar eleições, o PS irresponsavelmente fez um enorme aumento dos salários da função pública, e dois anos depois fomos de mão estendida pedir dinheiro.”

Admitindo que foram “três anos difíceis”, Magalhães vincou que “um partido que trouxe a troika para o país não percebe nem nunca perceberá que se comemore a saída da troika”. O líder parlamentar centrista disse que as promessas eleitorais do PS mostram que aquele partido “está mesmo com saudades” da troika porque irão implicar “mais dívida, mais défice, mais troika".

A mesma linha de discurso foi traçada por Luís Montenegro que ironizou sobre o facto de António Costa dizer que o programa socialista “traz aumento de despesa mas também diminuição da despesa, e traz aumento da receita e diminuição da receita. A receita do PS é fazer tudo ao mesmo tempo.” Lembrou que nos últimos tempos o PS prometeu reverter boa parte das medidas aprovadas pelo Governo e que durante três anos “amedrontou” o país ao prognosticar o pior, mas tal cenário não se concretizou.

Na resposta, Passos Coelho criticou o “desfiar de anúncios” que o PS tem feito e dramatizou o discurso avisando que as medidas preconizadas pelos socialistas “conduzirão o país ao desastre” e que levarão à violação do Tratado Orçamental. Numa intervenção recheada de fortes críticas aos socialistas e feita até num tom de voz especialmente duro em alguns momentos, Passos não se referiu especificamente a promessas do PS, mas brincou: “Não sendo uma Bíblia, [o programa do PS] foi apresentado por doze apóstolos e parece que faz milagres.” E avisou que “não há milagres nem economia nem nas finanças públicas”.

O debate quinzenal terminou em ambiente de comício, com as duas bancadas da maioria a levantarem-se para aplaudir fortemente durante 50 segundos a intervenção de Pedro Passos Coelho enquanto à esquerda havia muitas cadeiras socialistas vazias.

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