Compromisso Passos-Seguro mais longe com proximidade das europeias

Primeiro-ministro e líder do PS trocaram acusações duras neste domingo, em iniciativas da campanha das eleições para o Parlamento Europeu, que começa oficialmente na segunda-feira. Quadro de entendimento pós-legislativas volta a parecer surreal.

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Passos, Rangel e Melo cantaram o hino nacional Adriano Miranda
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Seguro e Assis recebidos emn festa em Amarante Paulo Pimenta

Os líderes do PSD e do PS deram ontem o tom – crispado, de troca dura de acusações - para a campanha das eleições europeias que oficialmente começa esta segunda-feira, convertendo o cenário de um entendimento pós-legislativas, que ambos admitiram na semana passada, num passado tão longínquo quanto adiado.

O almoço de pré-campanha correu melhor a António José Seguro em Amarante, onde os socialistas encheram um restaurante com cerca de 1200 comensais, do que a Passos Coelho que, em Trás-os-Montes, região onde tem raízes e que lhe costuma ser favorável, não conseguiu encher as duas salas reservadas aos apoiantes da coligação Aliança Portugal (PSD/CDS) numa escola de Macedo de Cavaleiros.

Depois de muitos telefonemas, a organização decidiu que Passos não entraria pela porta principal da escola, para não ter de atravessar uma sala praticamente vazia, mas sim por uma porta lateral. Apesar dos esforços do animador de serviço, a receptividade a Passos foi fraca.

O presidente do PSD, que é também primeiro-ministro, exortou os “portugueses e as portuguesas” a condenarem nas eleições europeias a demagogia e o facilitismo, apontando-as como marcas do discurso da oposição que quase “destruiu Portugal”.

Em Amarante, terra natal de Francisco Assis, cabeça de lista do PS ao Parlamento Europeu, o secretário-geral do PS defendeu que quem fez “muito mal ao país e aos portugueses” foi o actual Governo, para o qual pediu de uma “derrota clara” no dia 25.  E apelou ao voto útil, sublinhando que só o PS tem condições de derrotar a coligação PSD/CDS e protagonizar uma efectiva mudança.

“Todos aqueles que consideram que o país precisa de dizer ‘não’ a esta política de cortes cegos, de empobrecimento e de enganar os portugueses, dizendo uma coisa numa semana e fazendo outra na semana seguinte, todos os que querem uma mudança que coloque o país num horizonte de esperança, pois bem, têm que votar no PS”. O líder socialista chegou a dizer que Portugal precisa de um Governo “limpo”, “sério”, e criticou o actual executivo pelo corte de pensões e de metade do subsídio de Natal de 2011 “sem necessidade nenhuma”, e pelo alargamento do horário de trabalho. E recordou outras medidas que não chegaram a ser concretizadas, como a redução das indemnizações por despedimento ilegal ou o primeiro aumento preconizado para a Taxa Social Única.

Europa como pano de fundo
Defendendo que também a Europa precisa de rever prioridades, António José Seguro declarou que o sistema bancário europeu, "por mais importante que seja, não é mais importante do que as pessoas". E que urge votar PS no dia 25, para que também a União Europeia abandone a “política do empobrecimento” dos países endividados da zona euro que precisaram de assistência financeira.

Ao mesmo tempo, em Macedo de Cavaleiros, Pedro Passos Coelho afirmava que quem ouve falar a oposição “fica com a ideia de que tudo se resolveria sem sacrifícios, se a Europa quisesse”. “Estas eleições são importante para que as portuguesas e os portugueses possam condenar, recusar com esta mentalidade que ia destruindo Portugal e ia pondo em causa do euro e a Europa. Nós precisamos do voto das portuguesas e dos portugueses para recusar essa demagogia, para recusar esse facilitismo”, desenvolveu o primeiro-ministro, que no seu discurso elogiou vezes sem conta o papel que a Europa teve na ajuda a Portugal ao longo destes três anos em que o país esteve debaixo de um programa de ajuda financeira.

Depois de acusar os socialistas de terem lançado “muitos projectos que não faziam sentido” quando foram Governo, Passos não hesitou em acusar o PS de promover “o proteccionismo dentro do país” e o “privilégio, o distribuir os recursos por meia dúzia de pessoas”- uma acusação que dirigiu à Parque Escolar, no âmbito da reabilitação das escolas.

O líder do PSD insurgiu-se depois contra a “agenda populista e demagógica” da oposição, à qual imputou a tentativa de passar a ideia de que “tudo funcionará bem em Portugal, se mudarmos a Europa e se a Europa nos pagar todos os problemas que nós tivermos”. Embalado, sublinhou que “é fácil fazer política assim: na nossa terra, prometemos tudo, desde que os outros nos resolvam os problemas”. “Só pode haver solidariedade onde há responsabilidades onde cada um trata dos seus problemas e ajuda a resolver os problemas dos outros”, frisou.

Na mesma linha, o cabeça de lista da Aliança Portugal, Paulo Rangel, criticou o PS por se dizer preocupado com Estado Social, depois de ter deixado o país com os “cofres vazios”. “Mas quem deixa o país na bancarrota é quem trata do Estado Social? Como é que um país com os cofres vazios pode pagar a Educação, a Saúde ou a Segurança Social?" indignou-se Paulo Rangel. O actual eurodeputado do PSD acusou ainda os socialistas de não terem "agenda para a Europa" e insistiu na ideia de que Portugal não pode "repetir o passado". "Nós estamos vacinados contra os socialistas, isso é que nós estamos", disse.

Em Amarante, a jogar em casa, Francisco Assis acusava precisamente Paulo Rangel de preferir "fazer oposição a um Governo [do PS] que já não existe há três anos" a falar do presente, por não lhe convir. "É mais fácil tentar enganar as pessoas acerca do passado do que sobre o presente. Mas ele tem que explicar ao país por que o Governo optou por uma política económica errada que teve consequências tremendas do ponto de vista económico e social", atirou o cabeça de lista socialista, antes de a fadista de Rio Tinto Menita Rocha cantar "tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado", a sublinhar os traços do retrato que os socialistas fazem do estado actual do país.

Assis também fez fogo para bombordo, insurgindo-se contra uma "extrema-esquerda que passa a vida a atacar o PS" e a afirmar que "não há diferenças" entre este e os partidos do Governo.

A organização do almoço socialista não descurou pormenores. Seguro e Assis encontraram uma sala cheia, colorida por bandeiras e muito animada por uma excursão que chegou de autocarro de Baguim do Monte, concelho de Gondomar. Antes do repasto, jovens da JS trataram de fazer recolher, em nome das cores partidárias, as tangerinas que o restaurante tinha distribuído pelas mesas. Um cuidado da organização que um responsável do estabelecimento considerou um preciosismo francamente exagerado: "Ainda se fossem laranjas…", comentava com um encolher de ombros.

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