Coligação Aliança Portugal encara candidatura de Juncker como trunfo eleitoral face ao PS

À margem do congresso do PPE em Dublin, Paulo Rangel defendeu que o próximo presidente da Comissão Europeia deve ser o actual presidente do Eurogrupo.

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Jean-Claude Junker é o presidente da Comissão Europeia. Enric Vives-Rubio

A escolha de Jean-Claude Juncker como candidato dos partidos democratas-cristãos e conservadores do Partido Popular Europeu (PPE) à Comissão Europeia constitui um trunfo para a coligação governamental nas eleições europeias de 25 de Maio, afirmou Paulo Rangel, cabeça de lista da Aliança Portugal entre o PSD e o CSD.

“Estamos muito mais confortáveis com um nome como Juncker do que estão os socialistas com um nome como [Martin] Schulz”, afirmou o eurodeputado à margem do congresso do PPE, que decorre em Dublin para eleger na sexta-feira o chefe de fila dos seus partidos – actualmente em maioria no Parlamento Europeu – às eleições europeias.

Juncker, que foi 18 anos primeiro-ministro do Luxemburgo (até Julho passado), dos quais oito igualmente como presidente do Eurogrupo (as reuniões dos ministros das Finanças do euro), é o grande favorito entre os 825 delegados ao congresso originários de toda a Europa, dos quais 19 do PSD e seis do CDS/PP.

Apesar disso, o luxemburguês conta com um opositor, o francês Michel Barnier, comissário europeu responsável pelo mercado interno e serviços financeiros, que continua a acreditar nas suas hipóteses. Metódico, Barnier fez uma verdadeira campanha eleitoral junto dos partidos políticos e dos eurodeputados do PPE, em contraste com Juncker, que não teve esse cuidado.

Vários congressistas admitiram, aliás, em privado a sua simpatia pela candidatura “livre” de Barnier”, quando Juncker é visto como o candidato dos Governos da UE, sobretudo da Alemanha: o luxemburguês é visto em Berlim como o mais capaz de barrar o caminho ao alemão Martin Schulz, presidente do PE e candidato dos socialistas à sucessão de Durão Barroso na presidência da Comissão Europeia. “Barnier seria um melhor presidente da Comissão, mas Juncker tem melhor personalidade”, reconheceu um congressista austríaco mediante anonimato.

Barnier “tem a seu favor, como comissário, um exercício absolutamente impecável” a par de “grande prestígio político e técnico nas instâncias europeias” mas sofre de um “défice de notoriedade junto dos vários países europeus”, reconheceu por seu lado Paulo Rangel.

Ao invés, o luxemburguês é “profundamente conhecido na Alemanha” e “razoavelmente conhecido em Portugal”, país com quem tem “uma relação muito forte” também por causa da grande comunidade lusa residente no Luxemburgo, sublinhou. “É um candidato de primeira categoria”, frisou o eurodeputado, deixando claro o sentido de voto do PSD.

Sob uma forte pressão para desistir em favor de Juncker em nome da união do PPE, Barnier recusou, frisando que quer ir a votos. A pressão cresceu a partir do momento em que o terceiro candidato à investidura do PPE, o ex-primeiro ministro da Letónia Valdis Dombrovski, anunciou na quarta-feira à noite que se retirava em favor do luxemburguês. “Para ter os melhores resultados, o PPE deverá unir os seus esforços e apoiar a candidatura de Jean-Claude Juncker a presidente da CE”, afirmou Dombrovski no Twitter.

Juncker é um candidato “claramente mais forte do que Schulz” – que “à semelhança do que fazem os socialistas portugueses” – “diz liricamente que queria a solidariedade total na Europa” mas depois nas negociações para a grande coligação governamental na Alemanha, apesar de ser o responsável dos socialistas alemães do SPD, “deixa cair todas as suas propostas”, ironizou Rangel, que considera que, com Juncker, “a coligação Aliança Portugal leva uma vantagem enorme”.

Tanto mais, referiu, que o luxemburguês, nomeadamente no Eurogrupo, “esteve sempre numa posição de equidistância relativamente às várias sensibilidades”, “foi sempre a favor de uma disciplina orçamental (...) porque essa era a única forma de ultrapassar a crise das dívidas soberanas, mas sempre com uma grande compreensão pela situação que existia nos países sob ajustamento”.

Apesar das dúvidas que rodeiam a sua preferência, Juncker garantiu, por seu lado, que a sua candidatura é à presidência da Comissão Europeia – o órgão executivo da UE – e não ao Conselho Europeu – as cimeiras de líderes da UE, apesar de ter sempre mostrado maior apetência para o segundo cargo. Os dois cargos serão renovados este ano e até lá, tudo será possível, dependendo do resultado das eleições.

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