CEME admite que foram preço e contrapartidas que levaram à opção pelas Pandur

Chefe do Estado-Maior do Exército assegurou no Parlamento que Exército não teve "grande intervenção" na decisão de compra das viaturas blindadas.

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Daniel Rocha

Dois meses depois de ter sido criada, a comissão de inquérito aos programas militares dos últimos 15 anos fez a sua primeira audição.

O actual Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) foi ao Parlamento dizer que aquele Ramo estava “satisfeito” com as viaturas blindadas de rodas Pandur, que o programa ficara “coxo” com a cessação do contrato e que a opção pelo modelo em causa tinha sido da responsabilidade maior do ministério da Defesa e não do Exército.

O general Carlos Jerónimo invocou que o concurso incluía “factores de ponderação” que definiam que os requisitos técnicos representavam 32,5% no momento da decisão. O preço tinha um peso de 50% e as contrapartidas 15 %. “Onde a Steyr [empresa do universo General Dynamics que ganhou o processo] terá colhido vantagens foi no preço e nas contrapartidas”, acrescentou.

Após uma pergunta do comunista João Ramos, o CEME acrescentou que nessa fase “já não tivemos [Exército] grande intervenção”. “Isso é com o Ministério [da Defesa]”, rematou.

Depois de lembrar que a aquisição do equipamento militar resultava do conjunto de leis que definiam os conceitos, missões e sistema de forças, o general Carlos Jerónimo invocou as missões no exterior como outra razão para o programa de 344 milhões de euros para dotar o Exército de 240 daquelas viaturas. “A primeira vez que estivemos no Afeganistão tivemos de recorrer a viaturas emprestadas”, lembrou o militar já depois de se referir às desvantagens que existiam em usar as idosas Chaimites nos Balcãs.

“Com este tipo de equipamento estamos à altura”, disse o general. Foi com o socialista José Magalhães que o CEME confirmou que das 240 Pandur apenas tinham chegado 166. Lembrando os percalços no programa – com as contrapartidas que falharam e o “fabricante inepto” –, o socialista deu a entender que, afinal, o “Exército podia viver sem frotas de Pandur que tinham sido inicialmente ambicionadas”. E deu a entender que esse modelo até nem era o que o Exército defendia.

A aquisição dos referidos equipamentos militares foi decidida em 2004 e posteriormente formalizada junto da empresa austríaca Steyr, entretanto comprada pela norte-americana General Dynamics. O Estado português já pagou cerca de 230 milhões de euros, num negócio que incluiria os custos de manutenção dos equipamentos. O actual Governo veio a decidir depois denunciar o contrato, justificando com "atrasos no prazo da entrega", segundo Carlos Jerónimo.

A comissão de inquérito vai voltar a reunir-se terça-feira para ouvir o chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Luís Macieira Fragoso, seguindo-se o chefe do Estado-Maior da Força Aérea, general José Araújo Pinheiro.

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