Cavaco Silva não vê na crise política motivo para preocupações

Chefe de Estado disse esta terça-feira no Funchal que o contexto económico actual é bem diferente daquele em que ocorreu e crise política de 2011. “O Tesouro português tem hoje uma almofada financeira de dimensão substancial.”

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Gregório Cunha

O Presidente da República tentou esta terça-feira, no Funchal, descansar os portugueses sobre as possíveis consequências da actual crise política do país, argumentando que esta acontece num contexto económico bastante mais favorável do que aquela que ocorreu em 2011, e culminou com um pedido de assistência financeira.

“Hoje Portugal é um país respeitado junto dos investidores internacionais, um país cumpridor, um país onde existem boas oportunidades de investimento”, disse Cavaco Silva, na sessão de encerramento da 7ª jornada do Roteiro para uma Economia Dinâmica, que decorreu nos últimos dois dias na Madeira.

Depois de, na véspera, ter tentado desdramatizar o facto do governo estar em gestão, recordando que ele, enquanto primeiro-ministro esteve cinco meses em gestão, Cavaco Silva voltou a afastar as pressões para que decida rapidamente sobre a situação política nacional, sublinhando que o problema que existe é político, não económico.

Dirigindo-se aos empresários madeirenses, mas para todo o país ouvir, o Chefe de Estado pediu-lhes confiança, e garantiu que não existem razões para “estarem preocupados” com a crise política em Lisboa, porque “felizmente” o impasse em São Bento ocorre numa situação “muito mais favorável” do que em 2011.

“O Tesouro português tem hoje uma almofada financeira de dimensão substancial. A economia está a crescer, o desemprego está a diminuir”, justificou, lembrando que quando o PEC IV do governo de José Sócrates foi chumbado na Assembleia, o país estava à beira da bancarrota.

“Eu não quero vos dizer qual era o montante que o Tesouro português tinha em cofre em 2011, conforme foi comunicado pelo representante português que esteve presente na reunião do Eurogrupo”, recordou, dizendo apenas que por ser tão “exígua” e “assustadora”, os credores ficaram em pânico.

“No dia seguinte recebi telefonemas de vários países da europa assustadíssimos, porque havia um grande empréstimo para amortizar poucos meses depois”, contou o Presidente da República, lembrando que nessa altura os mercados financeiros internacionais estavam fechados para Portugal.

Agora, sublinha Cavaco Silva, o país tem “acesso fácil” aos mercados financeiros internacionais, a economia está a crescer, o desemprego está a cair, e existe um grande respeito da parte dos investidores internacionais.

Durante os dois dias em que esteve na região autónoma, o Presidente da República mostrou-se intransigente sobre o calendário que estabeleceu antes de tomar uma decisão sobre a situação política. No primeiro dia da visita, depois de ter visitado a ‘tecnológica’ ACIN-iCloud Solutions, Cavaco Silva reafirmou que pretende recolher o “máximo de informação” junto dos vários actores sociais, económicos e financeiros do país, antes de tomar uma decisão, alertando para as consequências de um passo precipitado. Esta quarta-feira, prossegue essas consultas, recebendo em Belém os presidentes dos principais bancos do país.

Esta terça-feira, enquanto o Presidente da República navegava a bordo da fragata NRP Bartolomeu Dias, a primeira-dama dizia aos jornalistas que o marido “estava tranquilo” perante a actual situação do país, mas, na visita ao Centro de Reabilitação Psicopedagógica da Sagrada Família, não quis se alongar em muitos comentários. “Sou sempre boa conselheira, seja qual for a decisão, mas nessas decisões não me meto, meto-me mais nas decisões da governança doméstica que é aquela que está toda às minhas costas”, disse Maria Cavaco Silva.

Madeira deve "diversificar a economia"
Tranquilo ou não, o Chefe de Estado mostrou-se confiante naquilo que viu e ouviu na Madeira, levando da visita a “convicção” de que os madeirenses saberão ultrapassar as dificuldades, mas antes de regressar a Lisboa deixou um conselho ao executivo de Miguel Albuquerque: “Tem de ser uma prioridade do Governo regional, diversificar a economia, apoiando o empreendedorismo noutras aéreas”.

“É preciso pensar na diversificação da economia”, insistiu, apontando o conhecimento, a inovação, a internacionalização e uma base industrial sólida como desafios para o futuro do arquipélago. Temas “críticos” para o desenvolvimento da Madeira e do país, aos quais juntou a criatividade, o desenvolvimento tecnológico, a qualidade e a conquista dos mercados.

Nos dois dias na Madeira, Cavaco Silva assistiu a tudo isto. Na segunda-feira, inaugurou um centro de design da madeirense Nini Andrade Silva, que tem clientes em todo o mundo, ouviu o CEO da ACIN falar da internacionalização da empresa, que já é líder nacional de soluções de software, de demorou-se na Vinhos Barbeito, que conseguiu conquistar o mercado japonês com o Vinho Madeira.

Esta terça-feira, o dia começou no mar, a bordo da NRP Bartolomeu Dias, onde o Chefe de Estado, rumou ao Caniçal, na zona Leste da ilha, para ver, ao longe, a exploração de aquicultura da empresa IlhaPeixe. Falou-de das potencialidades do negócio, e da qualidade da banana madeirense – “vocês têm uma banana maior e mais saborosa”, disse o Presidente –, antes de visitar o Centro Internacional de Negócios da Madeira, onde ficou a saber das potencialidades daquele instrumento, que representou, em 2014, 134 milhões de euros de receita fiscal para a região.

Antes do almoço, no Palácio de São Lourenço, oferecido pelo Representante da República para a Madeira, Ireneu Barreto, inda houve tempo para uma paragem na empresa Insular, de produtos alimentares.

À tarde, a comitiva presidencial rumou ao Madeira Interactive Technologies Institute, para inteirar-se da tecnologia que está a ser desenvolvida naquela empresa, parceira da Universidade da Madeira e de vários institutos nacionais e internacionais, terminando o dia no Palácio do Governo Regional, onde fez o balanço da visita.

“Este Roteiro para uma Economia Dinâmica foi desenhado para evidenciar empresas portugueses que podem ser apresentados como bons exemplos, e que podem estimular outras no sentido de darem passos importantes para a internacionalização”, sintetizou, antes de partir para a Assembleia Legislativa da Madeira para um Madeira de Honra. À espera, a USAM, afecta à CGTP, tinha montada uma manifestação, mas Cavaco Silva fintou as voltas aos manifestantes, entrando no parlamento madeirense por outra porta.

O líder do executivo madeirense, Miguel Albuquerque, traçou também um balanço positivo da visita. Definiu Cavaco Silva como um “grande amigo” dos madeirenses, e apontou novos caminhos para a economia madeirense, sempre olhando para o exterior. Depois do ciclo do açúcar, do ciclo do vinho, e do ciclo do turismo, Albuquerque quer agora um novo ciclo, o da economia digital e global. A Madeira, disse, já está presente neste mercado.

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